A Associação Brasileira de Energia Eólica está muito preocupada com a questão da transmissão no Brasil. Segundo Elbia Gannoum, presidente executiva da ABEEólica, a falta de linhas no país está afetando a expansão da fonte e isso ficou claro no último Leilão de Reserva, que aconteceu em novembro passado.

De acordo com a executiva, empreendedores eólicos tinham mais projetos para vender no certame, mas não puderam vender por não haver transmissão disponível. "Eu tenho a impressão de que a demanda por eólica nesse leilão chegaria a 2 GW, mas nós vendemos pouco mais de 500 MW", disse Elbia, que participou nesta segunda-feira, 7 de dezembro, do lançamento do caderno Energias Renováveis Complementares, elaborado pela FGV Energia.

Ela contou que no leilão, que é feito em duas fases, houve muita disputa pela linha de transmissão, que é a primeira fase. Depois, quando foi para a segunda fase, já não houve disputa. "Isso mostra que a disputa hoje não está por preço, está por transmissão", comentou.

Segundo Elbia, existem atualmente 20 GW de projetos eólicos em carteira, mas, no máximo, 3 GW tem alguma conexão. "Desses 3 GW tem projetos que não tem competitividade, que não estão localizados em lugares com melhor vento", avalia. Amílcar Guerreiro, diretor da Empresa de Pesquisa Energética, comentou que tem se demorado entre três e cinco anos para se construir uma linha no Brasil, enquanto um projeto eólico consegue ficar pronto entre dois e três anos.

"Estamos sofrendo um apagão de linhas no Brasil. O pessoal está realmente muito preocupado. É um problema muito sério", ressalta a presidente executiva dá ABEEólica. E para piorar ainda mais a situação, os leilões de transmissão não tem conseguido atrair investidores. No último certame, dos 12 lotes ofertados, apenas quatro foram leiloados.

Para Elbia, o modelo precisa ser revisto porque não está atraindo o investidor. "O pessoal tem alegado que a RAP está muito baixa para assumir o risco econômico financeiro e o risco ambiental", disse. O próximo leilão de geração a ser realizado é o A-5, que está marcado para fevereiro de 2016. Mesmo que, teoricamente, em um prazo de cinco anos daria para construir novas linhas, Elbia comenta que os empreendedores podem ter receio de vender os projetos e a transmissão não sair, devido aos problemas que o modelo do leilão de transmissão vem apresentando.

Um fato que agrava ainda mais a situação de transmissão para eólica é o "efeito Abengoa". A empresa, de acordo com Elbia, paralisou a construção de diversas linhas de transmissão que estavam sob sua responsabilidade e já avisou a Agência Nacional de Energia Elétrica que vai devolver os projetos.

Ela comenta que tem uma linha de 500 kV, na Bahia, em Bom Jesus da Lapa, que está parada e afeta 1 GW em projetos eólicos. "Ali tem projetos da Enel Green Power, da Iberdrola e da Renova que vão ficar sem linha", comenta.

No entanto, a executiva acredita que esse é um problema mais fácil de resolver, visto que a Aneel pode declarar a caducidade da concessão e realizar um novo leilão com os empreendimentos da Abengoa. Mas o fato é que pode atrasar a entrega de energia desses parques.

"O caso da Abengoa eu não considero que seja muito sério no médio e longo prazo, dá para resolver, leiloar novamente. O projeto econômico financeiro da Abengoa no Brasil é viável, só não é viável lá fora, por isso deu interferências aqui dentro e eles tiveram que parar", analisou. Além das linhas para eólicas, a Abengoa tem uma linha que levaria a energia de Belo Monte para o Nordeste, que também está com as obras paralisadas.