A rápida expansão dos empreendimentos de fonte renovável pode trazer um sério problema para o setor elétrico diante do atual momento pelo qual passa o segmento de transmissão de energia. Os seguidos leilões promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica que terminam com a maioria dos lotes ofertados sem interessados vêm causando preocupação de agentes e especialistas quanto a capacidade de atendimento da demanda por falta desses projetos.

Segundo o presidente do Instituto Acende Brasil, Cláudio Sales, esses certames praticamente vazios trazem um problema grave porque são projetos apontados como necessários no SIN. “São projetos dados como necessários para o escoamento de energia de projetos de geração já definidos e que em muitos casos já foram licitados e que deixam de ocorrer no prazo real”, comentou o executivo em evento promovido pela CPFL e o Instituto FHC, em São Paulo. Segundo ele, a estimativa é de que o país precisaria realizar investimentos de cerca de R$ 20 bilhões em sistemas de transmissão para correr atrás desses atrasos.

O presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica, Guilherme Velho, avaliou que a questão da transmissão é muito séria. “É a mais séria que estamos vivenciando hoje. Se a transmissão cumpre seu prazo o investidor recebe a sua receita, agora se acontece o contrário, o gerador atende o cronograma mas não tem a sua conexão disponível por conta de responsabilidade de terceiros, não tem receita”, ressaltou ele.

No último leilão de transmissão, lembrou Sales, do Acende Brasil, dos 12 lotes, apenas 4 receberam propostas. E esse cenário já foi visto como tendência em outros certames ocorridos nos últimos anos.

Esse cenário se mostra mais pressionado ao passo que as fontes renováveis como a eólica e solar avançam na matriz elétrica. O CEO da CPFL Renováveis, André Dorf, lembra que essas fontes vêm aumentando a sua participação nos leilões da Aneel. “Se olharmos para trás, em um histórico recente temos visto a grande participação na matriz. No triênio de 2007 a 2009 as renováveis responderam por 11% do volume de energia vendida nos leilões, esse montante passou para 31% em 2011 a 2012 e entre 2013 e 2015 já alcançou 58% do total comercializado no leilões e com a predominância da eólica”, destacou.

Outro fator que pressiona ainda mais a necessidade de transmissão é que esses projetos renováveis são de rápida implantação. Entre um ano e meio a dois anos e meio essas centrais estão prontas para gerar e com taxas atrativas aos investidores. E, entre os desafios está a transmissão que conecta os parques ao SIN. Segundo ele, a empresa mesmo já deixou de cadastrar projetos por conta da falta de conexão. Mas, ressaltou que houve uma substituição dessa capacidade de geração por outro que dispunha dessa capacidade de escoamento, já que hoje a responsabilidade de conexão é do empreendedor nos leilões.

"Até 2013 quem não tinha conexão recebia a receita sem gerar, não temos a concessão para os investimentos e não temos a expertise e esse é o grande tema para a discussão”, disse ele no mesmo evento.