As estimativas apontadas pelo governo federal em termos de ganhos que o horário de verão proporciona ao país podem estar baseadas em premissas ultrapassadas. Quem alerta é a consultoria PSR que questiona os R$ 7 bilhões de custos evitados em investimentos no sistema elétrico para atender a uma demanda adicional prevista de 2.610 MW, além da redução média de 4,5% na demanda por energia no horário de maior consumo e de 0,5%de economia absoluta. O principal motivo está na mudança do padrão de consumo que se deslocou para o início da tarde.
A PSR destacou em seu informativo mensal
Energy Report que não é contra o horário de verão, "porém somos contra qualquer afirmação quantitativa que não esteja respaldada por um sólido estudo que lhe dê credibilidade". E nesse sentido é que indica que os números apresentados podem estar defasados diante da realidade.
“Não sabemos como foram feitas essas estimativas, porém há indicações de que elas são baseadas em premissas ultrapassadas, e de que o horário de verão possivelmente poupa bem menos energia do que o apregoado, se é que chega a poupar alguma energia”, afirmou a consultoria em relatório obtido pela Agência CanalEnergia.
O motivo que levou ao questionamento é que o Operador Nacional do Sistema Elétrico aponta que o horário se justifica principalmente pela mudança do horário de pico de consumo, que normalmente ocorre das 18h às 21h. Com a alteração do horário a meta é a redução da demanda máxima no Sistema Interligado Nacional no período de ponta. Esse deslocamento do horário deixaria de coincidir o acionamento da iluminação com o consumo do comércio e da indústria, que se reduz após às 18 horas.
Contudo, lembra a PSR, esse padrão se alterou ao longo do tempo e atualmente o pico de consumo não ocorre mais no início da noite e sim entre 14 e 16 horas. Tanto que a maior demanda histórica no SIN foi verificada em 5 de fevereiro de 2014 com 85.708 MW às 15 horas e 41 minutos. Nessa época o Brasil registrou seguidos recordes de demanda instantânea e sempre nesse intervalo do dia em decorrência das altas temperaturas.
Essa alteração no comportamento de consumo pode ser explicado por dois motivos, um é o aumento da participação da refrigeração no padrão de consumo de energia do país com aparelhos de ar condicionado, ventiladores, geladeiras e frigoríficos. O segundo é a soma de um conjunto de sinais econômicos inadequados que incentiva a redução da demanda no horário das 18 às 21 horas sem levar em conta o real período onde a demanda é maior.
Na avaliação da consultoria, independente das causas desse deslocamento, o horário de verão não provoca, ao que tudo indica, nenhuma alteração na demanda máxima do sistema porque esta ocorre no meio da tarde. “Sendo assim, aparentemente não há a tal redução de 2.610 MW na demanda, e portanto, o horário de verão não evitaria investimentos na ordem de R$ 7 bilhões”, acrescentou a PSR. Para a consultoria seria possível ter economia caso os sinais econômicos equivocados que reduzem a demanda no horário de ponta oficial fossem corrigidos.
Quanto à redução máxima da demanda em 0,5% a PSR diz que esse indicador deveria ser revisto haja vista o peso cada vez menor da iluminação no consumo de energia ao citar um estudo da EPE de setembro de 2015 e publicado na Resenha Mensal daquele mês que aponta para uma queda de 18% para 14% no peso da iluminação entre 2005 e 2014 no consumo residencial, sem considerar o chuveiro elétrico e a TV.