A tecnologia de captura de carbono, a chamada CCS (Carbon Capture and Storage), precisa de escala mundial para ter seu preço reduzido e ser competitiva. O presidente da Associação Brasileira de Carvão Mineral, Fernando Luiz Zancan, participou na semana passada da Coal Week, na Europa, e contou que é consenso no segmento que os governos precisam incentivar a construção de térmicas com a tecnologia para que seus custos sejam reduzidos, assim como acontece com as fontes renováveis.
Segundo Zancan, é brutal a diferença entre o que foi investido em eólica e solar e os aportes em CCS. “Nas energias renováveis foram investidos, praticamente, US$ 2 trilhões e no CCS, US$ 20 bilhões”, comentou o executivo em entrevista à Agência CanalEnergia. Para ele, é preciso que haja um compromisso dos países ricos para que comecem a desenvolver essa tecnologia e ganhe escala. Ele cita como exemplo o projeto de Boundary Dam no Canadá, na província de Saskatchewan, no qual uma planta antiga de carvão, de 120 MW, foi retrofitada e incorporou a tecnologia de pós combustão de captura de CO2. “Essa é uma planta que hoje está capturando 90% do CO2 produzido”, comentou.
Eduardo Braga |
No retrofit da usina, segundo Zancan, foram gastos cerca de 1,4 bilhão de dólares canadenses, dos quais 300 milhões de dólares canadenses vieram do governo da província de Saskatchewan. “Isso precisa ser feito em outros lugares do mundo. Para a próxima planta o preço já cai 30% e assim vai”, aponta.
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No entanto, Zancan admite que vai demorar um tempo ainda para que essas plantas sejam comerciais. Enquanto isso, diz, é preciso começar a fazer plantas mais eficientes e modernizar o parque existente, reduzindo a quantidade de CO2 por quilowatt gerado. Ele calcula que a diferença de capex de uma planta subcrítica, que tem eficiência em torno de 35%, para uma supercrítica, com eficiência em torno de 41%, gira em torno de 20%. “Se colocar a captura de carbono, o capex aumenta 80%”, comenta.
Para cada ponto percentual que se aumenta na eficiência da planta a carvão, calcula Zancan, se reduz de 2,5 a 3 pontos percentuais de emissões de CO2. No Brasil, as plantas existentes são subcríticas, por isso, para ele, é preciso, nesse primeiro momento, realizar a modernização dessas unidades e estimular a construção de usinas a carvão mais eficientes. “Num segundo momento, lá para 2030, aí sim seria possível colocar plantas com captura de CO2, caso o planeta consiga desenvolver essa tecnologia a preços competitivos”, avalia.
Atualmente, as usinas a carvão estão sendo construídas, principalmente, em países emergentes do sudeste Asiático, Índia, China e em alguns países da África. “A Índia é a bola da vez em termos de construção de térmicas a carvão. Na Ásia são implantados cerca de 200 MW por dia de térmicas a carvão”, diz.
No Brasil, afirma Zancan, pode ser que novos projetos venham a ser contratados no leilão A-5 de fevereiro de 2016. A tecnologia utilizada em novos projetos deve ser a mesma que a Tractebel vai utilizar em Pampa Sul, de leito fluizado circulante. “Precisamos construir plantas mais eficientes e modernizar as plantas antigas. O primeiro passo é modernizar e aos poucos fazer plantas mais eficientes. Esse é o roteiro que a gente tem que traçar aqui no Brasil”, analisa.