Estudo realizado pela consultoria econômica Ex-Ante para a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres mostra que a disponibilidade de energia elétrica e de gás natural a preços competitivos para a indústria pode aumentar em 0,5 ponto percentual ao ano o crescimento da economia nos próximos dez anos. Na contramão desse cenário, um aumento de 10% no preço em dólar da energia elétrica poderia resultar de imediato em redução de 1,2% na capacidade de investimento das empresas.

O trabalho sobre os impactos do custo dos dois insumos no crescimento e no desenvolvimento econômico considera três cenários de preços para o gás e a eletricidade no período de 2015 a 2025. O primeiro prevê a adoção de um política de equalização de preços aos níveis do mercado internacional, o que restabeleceria a competitividade do setor industrial, principalmente das atividades eletrointensivas. 
 
O segundo seria de continuidade das condições atuais, com a manutenção das regras de reajuste das tarifas de energia e a suspensão do desconto sobre o preço do gás natural nacional, com repasse aos consumidores das variações do preço do petróleo. No terceiro cenário, haveria a deterioração das condições, o que, no caso do gás, significaria aumento das tarifas a partir de 2016, com um acumulado de 74% em termos reais em dez anos. No pior cenário, o gás ficaria, na média, 36,5% acima da inflação, comparado à hipótese de continuidade, e 164,5% superior ao preço praticado no cenário competitivo. 
 
Para o presidente-executivo da Abrace, Paulo Pedrosa, “a pesquisa indica claramente que os aumentos de custo da energia elétrica reduzem o ritmo de acumulação de capital e, portanto, têm efeitos sobre o crescimento econômico das nações e sua capacidade de investimento.” Em um cenário de preços competitivos, conclui o trabalho, a taxa de expansão do Produto Interno Bruto per capita passaria de 1,3% para 1,9% ao ano em média até 2025, o que levaria a um crescimento da renda média da população mais rápido que a média mundial.
 
Com isso, haveria reflexos também sobre a população ocupada, que cresceria 1,6% ao ano, com a criação de 5,5 milhões de postos de trabalho a mais em uma década. O PIB, que é a soma das riquezas produzidas no país, cresceria R$ 404 bilhões a mais do que o previsto no cenário atual,  o que daria uma diferença, em valor presente, de R$ 2,472 trilhões.
 
O levantamento da Ex-Ante revela que o custo da energia eletrica e dos gás natural para os consumidores eletrointensivos, que representam 49% do PIB, aumentou  muito acima da inflação entre  2000 e 2013, com impactos sobre as margens de lucro, o investimento e o crescimento da economia. No caso da energia, o custo por unidade de produto aumentou, em média, 8,9% ao ano (204% no acumulado), contra 6,5% ao ano de variação do Indice de Preços ao Consumidor Amplo, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O IPCA acumulou 127% em 13 anos. Já o preço do gás para a indústria cresceu 628% no período no Brasil, contra 53% de aumento do insumo nos Estados Unidos; uma diferença de 575 pontos percentuais.
 
O aumento do custo da energia eletrica foi superior aos preços dos produtos industriais, que subiram 8,5% ao ano no país, ou 188% no acumulado, de acordo com o Índice de Preços no Atacado de Bens Industriais da Fundaçao Getúlio Vargas. No setor de cimento,os custos somaram 518% entre 2000 e 2013, contra redução média do  produto de 22,5%; enquanto nas empresas de fundição o crescimento foi de 123,7%.
 
No caso do gás natural, o custo unitário para a indústria nacional variou 754%. Na metalurgia de não-ferrosos, o aumento médio foi de 26,7% ao ano, com crescimento real de 16,8%; na mineração de não-metálicos, o custo subiu 13,8% ao ano acima da inflação; na indústria de alimentos e bebidas, o crescimento foi de 20,4% ao ano e, no siderúrgico, de 13,9% ao ano.