Os recentes embates que o setor vem passando nos últimos anos e os seus impactos no mercado levam a uma necessidade de revisar o modelo do setor elétrico. Inclusive esse processo já foi defendido pelo diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica, Tiago Correia. Todos os setores passam por um momento delicado, o de geração com o déficit hídrico, o de transmissão com a falta de atratividade de investidores e as distribuidoras que passaram por um problema sério de fluxo de caixa até o acordo da conta-ACR.

O CEO da EDP no Brasil, Miguel Setas, afirma que a crise atual é conjuntural e que a MP 688 possui pontos positivos. Contudo, defende que é necessária uma solução estrutural e que esse próximo momento do setor passa por um avanço onde deve-se considerar um planejamento de portfólio de geração no setor como um todo. Esse passo envolve considerar a entrada de térmicas mais baratas na base, o papel do gás natural na matriz elétrica e ainda um modelo de precificação do setor que pode ser diária.

Setas, contudo, defende que o desenho do setor elétrico é robusto e que esse ajuste para a nova realidade deveria contemplar ainda os novos empreendimentos que estão formando a matriz que são UHEs a fio d’água, fontes renováveis e intermitentes. “O modelo deve ser adequado para isso”, resumiu ele em evento que reuniu altos executivos do setor elétrico em São Paulo, organizado pela ABCE.

Na visão do presidente da Duke Energy, Armando Henriques, a crise atual vai passar e o país precisa projetar o futuro do setor. “Em 2000, 90% da geração era concentrada em UHEs e em 2020 esse indicador tende a ficar menor do que 60%. A mudança estrutural da matriz é muito grande e exigirá adequações no modelo regulatório e de operação”, afirmou Henriques.

Ele concorda que o modelo brasileiro é robusto, mas reconhece que está ficando superado e tem que se adequar. Ele lembra ainda que o ano de 2020 para o setor elétrico é hoje, pois o planejamento é de cinco anos. O que se desenha hoje não é o futuro, mas a atualidade do setor elétrico. Com isso, o país teria os sinais mais adequados de caminhos para os investimentos cada vez mais sólidos e eficazes, um cenário que atrairia investidores ao país, disse ele, sem deixar de citar a necessidade de regras claras e estáveis.

O presidente da Cesp, Mauro Arce, por sua vez lembrou que o nível de armazenamento de água em reservatórios de UHEs é praticamente o mesmo de 2001, isso por conta das novas usinas a fio d’água. E ainda que os resultados das empresas do setor em 2015 são incertos por conta da crise que o setor passa com a judicialização que se criou e que culminou com o travamento do mercado na CCEE.

Henriques, da Duke, lembrou que essa situação foi criada justamente por conta das seguidas alterações em um setor que é complexo e que ao se mexer em uma regra acaba afetando outra. Essa situação, acrescentou, só se resolve por meio do diálogo. O mesmo diálogo que defendeu o presidente da Abraceel, Reginaldo Medeiros, que lembrou do último acordo geral do setor elétrico, que levou os agentes a um centro de convenções de Brasília durante três dias para assinaturas de contratos resultantes desse acordo. “Por que não podemos fazer novamente isso?”, questionou.