O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, reafirmou em audiência pública no Senado que o Brasil tem hoje risco de racionamento próximo de zero, graças às usinas eólicas, às térmicas e às interconexões de transmissão instaladas no país. Braga admitiu, porém, que “há sempre imprevisibilidades” que o governo não tem como enfrentar, em apresentação sobre as metas brasileiras de redução das emissões de gases de efeito estufa, durante reunião na Comissão Mista das Mudanças Climáticas.
O ministro citou como exemplo a queda, no último dia 22, de oito torres de uma linha de transmissão de Furnas que estava praticamente pronta entre os municípios de Rio Verde e Itumbiara (GO) e foram derrubadas após uma ventania. Dois dias depois, ventos fortes também danificaram, no mesmo trecho, duas torres de outra linha de 500 kV da Itumbiara Transmissão de Energia, controlada pela State Grid.
Na apresentação, Braga lembrou que, diferentemente de 2001, quando predominava a energia hidrelétrica, a matriz elétrica mudou com a forte expansão das usinas térmicas que somam 23 mil MW instalados. Ele destacou, no entanto, o crescimento expressivo da energia eólica, que tem 14 mil MW e representa 5% da matriz. “Na solar, que era um traço, esperamos expandir mais rapidamente que na eólica”, afirmou.
O grande desafio das hidrelétricas incluídas no planejamento, segundo o ministro, é a distância dos centros de carga que exige a instalação de grandes linhas de transmissão. Ele mencionou também as dificuldades de licenciamento e afirmou que a emenda constitucional que cria o “fast track ambiental” para dar maior rapidez ao processo esta tramitando desde ontem no Senado. A emenda estabelece prazo máximo de seis meses para que os órgãos envolvidos licenciem obras estratégicas. Caso isso não ocorra, a licença sairia por decurso de prazo e o empreendedor estaria autorizado a iniciar a obra.
As metas voluntárias anunciadas pela presidente Dilma Rousseff em discurso na ONU prevê reduzir emissões em relação aos níveis de 2005 em 37% até 2025 e em 43% até 2030. A meta é elevar para 23% a participação das fontes renováveis, sem contar os investimentos em hidrelétricas. “Estamos falando de um conjunto de ações e de políticas públicas para que o Brasil possa avançar na redução”, disse o ministro. Para Braga, o desafio é grande porque o país terá que crescer muito na eólica e na biomassa, mas ainda mais na expansão da fonte solar e na geração distribuída.
O ministro disse que a energia solar deve aumentar em cinco vezes a capacidade instalada ate 2018. Até 2030, o mercado de energia elétrica brasileiro terá de dobrar, acrescentou. “Ninguém vai investir em hidrelétrica se ela começar a dar prejuízo em déficit hidrológico”, disse, lembrando que a participação das UHEs já foi de 92%, era de 86% em 2005 e deve representar 66% da matriz até 2030.
Ao comentar a crise hídrica no Nordeste, Braga admitiu que a situação em Sobradinho é critica, mas não no nível que tem sido divulgado. Ele destacou que “muito provavelmente” o Nordeste esteja vivendo um ciclo já identificado pelo Cepel – agora em estudo também por institutos que trabalham com previsões meteorológicas como o Cemadem e CPTEC – no qual a cada 200 anos haveria um período de seca de dez anos. “E nós não estamos ainda no quinto ano de seca”, disse.
O ministro mencionou o potencial eólico da região e previu que o Brasil vai chegar a 2050 “ou como o maior produtor, ou como o segundo maior produtor de eólica do mundo.”