O adiamento do leilão das 29 usinas hidrelétricas que não tiveram a concessão renovada dá mais fôlego ao governo para atrair novos players ao certame que deverá ocorrer ainda em novembro, mas ainda sem data definida. Essa medida, que oficialmente foi tomada para assegurar a segurança jurídica do tema com a avaliação da MP 688 pelo Congresso Nacional, indiretamente abre mais espaço para que as empresas consigam avaliar as condições do certame, ainda mais com a notícia de que um pool de bancos estaria disposto a financiar os vencedores do leilão, um fato que ajudaria a cobrir parcialmente um dos maiores problemas apontados pelos potenciais investidores até o momento, o pagamento do bônus de outorga sem a participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Segundo apurou a Agência CanalEnergia com fontes próximas aos bancos, a participação desse pool de instituições financeiras ainda não está definida. Em princípio, a participação sobre o montante necessário seria de até 50% das necessidades, sendo que a avaliação desse limite se dará a cada caso e não por meio de um pacote já previamente fechado.
Na avaliação da diretora da Thymos Energia, Thaís Prandini, o anúncio do adiamento deixa ainda mais apertado o prazo para que o governo possa arrecadar ainda este ano a primeira parcela do bônus de outorga. Por outro lado, permite uma maior preparação de empresas que talvez pudessem não conseguir se estruturar a tempo para o certame e que, com esses dias a mais, seja possível entrar na disputa.
“Agora o prazo ficou mais apertado para o governo, qualquer coisa que possa ocorrer no caminho poderá deixar para o ano que vem o pagamento da primeira parcela do bônus de R$ 17 bilhões”, comentou. “Inclusive, com esse prazo adicional ao mesmo tempo que vemos o Banco do Brasil dizer que vai participar com um pool de bancos do financiamento do bônus, pode ser que o governo esteja até preparando um plano B já que o volume financeiro é muito alto e o BNDES não participará com o financiamento desses valores a serem pagos”, acrescentou.
Um plano B nesse caso pode também significar que a atratividade do certame pode não estar de acordo com o que se esperava. Segundo Leontina Pinto, diretora executiva da Engenho Consultoria, a conta não fecha quando se analisa o preço exigido para a concessão das usinas, principalmente da Cesp, ante a curva de preços projetada no longo prazo para o mercado livre, que é de onde se deverá tirar a rentabilidade dessas concessões.
“Não consigo ver como esse leilão poderia gerar interesse “, relembrou ela. “Os investidores têm que colocar equity e a notícia do pool de bancos participando desse processo pode sinalizar que o volume de interessados pode ter sido baixo e que ao existir a perspectiva de que bancos estejam com apetite para esse financiamento sejam atraídos mais investidores”, avaliou.
Para Leontina não é apenas a questão da aprovação ou não da MP 688 nesse caso. Um ponto importante é a questão dos preços que não fecham a conta, ainda mais por conta do momento de baixa demanda de energia que tem levado os preços do ACL a um patamar de valores mais baixos, devido a economia que está em recessão. Ela lista ainda as incertezas e complexidades regulatórias que permeiam o setor como mais um entrave. Leontina contou que investidores externos com quem teve contato não entenderem como funciona o mercado por aqui, o que pode impactar diretamente na rentabilidade de um empreendimento.