Na mais recente edição do Energy Report, publicada nesta sexta-feira, 16 de outubro, a consultoria especializada PSR analisou a viabilidade técnica e econômica de se usar energia fotovoltaica e baterias para o atendimento da demanda elétrica dos sistemas isolados, atualmente supridos na maior parte por geração a diesel.
A consultoria concluiu que a implantação de sistemas fotovoltaicos em larga escala nessas localidades, substituindo parcela significativa do consumo de combustível fóssil, não é justificada no curto prazo. Em suas simulações, a PSR até identificou uma redução de 2,8% nos custos de geração ao considerar uma solução combinada de solar e diesel. Porém, a economia apesentada talvez não se justificaria diante do aumento da complexidade operacional que essa solução implicaria às empresas.
Além das questões técnicas, a possibilidade de interligação dessas regiões com o Sistema Interligado Nacional torna a energia solar uma aposta arriscada em muitos dos sistemas isolados. Outro obstáculo é o tipo de contrato praticado no sistemas isolados. "Mesmo nos sistemas sem previsão de interligação, os contratos de fornecimento de 15 anos ainda não são ideais para a energia solar, pois não cobrem toda a vida útil do sistema (normalmente estimada em 25 anos)."
A PSR também identificou que o perfil das empresas atuantes nos sistemas isolados não favorece a introdução de alternativas ao diesel. "Os operadores são, na maioria dos casos, empresas especializadas na geração térmica a diesel (alguns inclusive fabricam geradores). Para essas empresas, investir em soluções alternativas representaria um afastamento do seu negócio principal". Por outro lado, para empresas focadas em energias renováveis, a oportunidade de investir em sistemas isolados talvez não justificasse os desafios logísticos de atuar em regiões tão remotas.
Mesmo com todos esses obstáculos, a consultoria entende que pequenos projetos de energia solar poderiam reduzir o consumo de combustível e trazer ganhos desde já, com algum impacto sobre a Conta de Consumo de Combustíveis, que é hoje paga por todos os consumidores brasileiros. O valor desse subsídio foi orçado em R$ 7,2 bilhões em 2015. "Mesmo uma pequena redução relativa do valor dessa conta seria relevante, dado o seu valor elevado. Além disso, os primeiros projetos em sistemas isolados na região Norte seriam importantes para confirmar a viabilidade econômica e permitir aos operadores desenvolver expertise técnica", argumenta.
Para a PSR, algumas soluções regulatórias poderiam incentivar tal desenvolvimento, como leiloar os sistemas isolados junto com as regiões remotas (onde a energia solar tem uma vantagem maior). Um contrato de fornecimento de 20 a 25 anos também aumentaria a competitividade da fonte. “No médio/longo prazo, a tendência é claramente de maior participação da energia solar no suprimento dos sistemas isolados. A tecnologia dos geradores diesel é madura enquanto as tecnologias da energia solar fotovoltaica e principalmente de sistemas de armazenamento continuam a evoluir rapidamente, reduzindo custos. Além disso, muitos sistemas isolados continuarão sem previsão de interligação ao SIN já que suas pequenas demandas e distâncias não justificam a expansão das redes de energia locais”, aponta.
“O governo já tomou um passo importante para reduzir o custo dos sistemas isolados do país ao criar leilões para aumentar a competitividade. Com um pouco mais de inovação e ousadia dos produtores independentes de energia, soluções mais econômicas podem ser desenvolvidas. Pequenos ajustes nas regras do jogo podem contribuir para esta mudança”, afirma o documento.