A viabilização do complexo eólico Ventos de São Vicente (PI – 206 MW) no último leilão A-3 não significou apenas a estreia da Votorantim Energia na fonte eólica. O projeto adquirido da Casa dos Ventos vai custar R$ 1,13 bilhão em investimentos e faz parte de uma estratégia montada pela empresa que abrange um foco em fontes renováveis e uma atenção especial ao mercado livre. A entrada em operação está prevista para 2018. Com 33 usinas hidrelétricas e cinco térmicas, a Votorantim decidiu que era chegado o momento de atuar para fora do grupo e de ter energia vinda da fonte que mais cresce no país. "Já somos grandes em energia e temos uma visão diferenciada. Há dois anos aprovamos esse plano de negócios. A eólica está competitiva e achamos que era hora de entrar", afirma Raul Cadena, diretor financeiro da Votorantim Energia.

O executivo é só elogios para o parque do Piauí, que fica em um terreno plano da cidade de Curral Novo, na região conhecida como Chapadinha – que fica ao Sul da Chapada do Araripe, onde outros players já desenvolvem projetos – e próxima ao estado de Pernambuco. A implantação vai gerar cerca de mil empregos. Segundo ele, o local é servido por rodovias estaduais que garantem o fácil acesso dos equipamentos, já possui linha de transmissão para escoar a energia e P90 de 50,7%. "Para nós é um parque perfeito. Foi um belo parque para a gente entrar na energia eólica e estar nesse novo momento da Votorantim Energia", avisa. Segundo Cadena, o parque ainda tem um potencial de 600 MW e a empresa tem a opção de compra desse restante, caso queira fazer uma extensão dele.

Cadena não confirma a presença da Votorantim Energia no próximo leilão de reserva que acontecerá ainda este ano, mas se anima com o A-5 que vai ser realizado em fevereiro do ano que vem. No leilão A-3, ele travou o risco cambial do dólar para o do dia da cotação do certame, de R$ 3,45. Cadena acredita que os próximos leilões deverão obrigatoriamente ter os preços mais altos que os R$ 189/MWh aplicados no último LER, já que muitas variáveis sofreram alterações consideráveis. "No leilão de agosto, algumas premissas já estavam defasadas. Tem que ter revisão de preço, do contrário, acho que vão ser poucos parques que vão conseguir competir", observa.

Os planos da Votorantim Energia também passam por uma atuação mais concentrada no mercado livre e na autoprodução. Segundo o diretor financeiro, hoje ela é a terceira maior comercializadora, com mais de 100 clientes fora do grupo Votorantim e começa a prospectar ativos renováveis para a autoprodução, já que o grupo tem a expertise no assunto. "Queremos estabelecer parcerias com empresas que não querem preocupação com a operação do ativo e querem energia competitiva com um custo previsível", revela. Cadena conta que nas usinas eólicas houve um balanceamento, deixando um percentual dele para o mercado livre. No Ventos de São Vicente, são 93 MW médios no ACR e 9 MW médios ficaram para o ACL, mas cada parque terá um plano individual. "Já estamos conversando com clientes nossos da comercializadora interessados em investimentos em autoprodução", revela.

A comercializadora terá um papel importante na venda de energia eólica, já que por ter um grande lastro, ela vai poder negociar um contrato de energia constante que supra a sazonalidade da fonte, além da gestão da energia do cliente. A medida que a carteira da empresa for aumentando, os planos são de que seja destinado um maior volume de energia nos projetos para o mercado livre. Da carteira de projetos de 1 GW que contempla eólicas, PCHs e usinas Solares, as duas primeiras levam vantagem para serem viabilizados em leilões do mercado regulado. A empresa ainda vê algumas incertezas na fonte solar, mas projeta um ótimo futuro. "O nosso parque tem um potencial de insolação que é um dos maiores do Brasil", afirma Cadena.

O cenário econômico adverso não desanima a empresa. Para Cadena, os investimentos feitos pela Votorantim não visam apenas o curto prazo, já que o país vai precisar de energia. Segundo ele, vai ter sucesso o player que for diligente e conservador. "O curto prazo afeta o retorno, mas no longo prazo, a energia é um mercado que vai crescer", conclui.