A contração da economia e a queda na demanda devem impactar a contratação de energia no leilão A-1, segundo especialistas ouvidos pela Agência CanalEnergia. O certame inicialmente ocorreria no dia 19 de novembro, mas passou para o dia 11 de dezembro. Junto com o adiamento, houve a prorrogação de prazos importantes, como o da entrega da declaração de necessidade pelas distribuidoras, que passou para o dia 5 de novembro, e também da documentação dos geradores interessados em participar do leilão.

Com um prazo maior, as distribuidoras tem mais tempo para avaliar o mercado e ver qual será sua real necessidade de compra no certame. Marcos Brasil, responsável por estudo e gestão de energia no Grupo Safira, avalia que o leilão pode ter sido adiado por conta de uma indefinição das distribuidoras da necessidade de energia. "Está havendo uma redução do mercado por conta da contração econômica. Tem indústria que está consumindo menos e estamos vendo muita migração do mercado cativo para o livre. Por conta disso, as distribuidoras podem estar com uma indefinição do mercado. Esse tempo a mais é importante para elas terminarem as avaliações", aponta o executivo.

Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, comenta que a probabilidade do leilão ter pouca contratação é muito alta, mesmo para os produtos com prazo mais longo. "Estão entrando plantas eólicas, hidrelétricas, que foram previstas quando o crescimento da demanda era alto e agora essa demanda que foi estimada não está se realizando. As distribuidoras podem estar sobrecontratadas e esse leilão A-1 pode não ter um nível de contratação muito alto", avaliou.

O nível de contratação, na visão de Thais Prandini, diretora da Thymos Energia, vai depender muito do resultado do leilão de UHEs existentes. Segundo ela, se as usinas de Jupiá e Ilha Solteira forem realmente licitadas, elas poderão suprir boa parte da descontratação das distribuidoras. Para os vendedores de energia, ainda segundo ela, a participação efetiva dependerá do preço-teto, que ainda vai ser divulgado.

"Tem muita gente querendo participar, projetos grandes, mas a maior expectativa é o preço-teto. Esperamos que sejaum pouco acima do A-5, que teve valores em torno de R$ 270/MWh, porque tivemos aumento de preço de combustível, impacto do dólar", disse Thais. O interesse de empresas em participar do leilão e o prazo apertado para a entrega dos documentos, levaram a Cogen até a Empresa de Pesquisa Energética para pedir a extensão do prazo. "Nós fomos na EPE pedir uma prorrogação. Só de biomassa são 550 MW médios e alguns não conseguiriam entrar. É muito provável que agora todos tenham condições de se cadastrar", analisou. 

O leilão A-1 vai aceitar propostas para quatro produtos: Quantidade, que vai ter início de suprimento em 1º de janeiro de 2016 e vai até 31 de dezembro de 2018; Disponibilidade 1, com início de suprimento em 1º de janeiro de 2016 e término de suprimento em 31 de dezembro de 2020; Disponibilidade 2, com o abastecimento começando em 1º de janeiro de 2016 e indo até 31 de dezembro de 2018 e Disponibilidade 3, com início de suprimento em 1º de janeiro de 2016 e terminando em 31 de dezembro de 2016. Os produtos por disponibilidade serão apenas para a fonte térmica, incluindo a biomassa, e o produto por quantidade para as demais fontes.

Para Nivalde de Castro, essa divisão já mostra que o planejamento energético está caminhando para o modelo de leilão por fonte. "Isso é muito importante porque dá condições de se construir uma matriz mais estratégica, onde se define quanto vai se contratar de cada fonte, o que dá um ganho de eficiência para a operação que não se tinha quando se buscava apenas a modicidade tarifária", aponta.