O processo descontinuado de construção de reservatórios em novas hidrelétricas precisa ser revisto, na opinião da PSR. Na mais nova edição do Energy Report, a consultoria recomenda que novos inventários hidrelétricos e os realizados nos últimos anos sejam revistos em benefício da sociedade brasileira sob ponderação mais equilibrada entre benefícios econômicos e impactos ambientais.
Como já se sabe, a existência de reservatórios nas hidrelétricas permite desacoplar a produção de energia dessas usinas da variabilidade da afluência que chega a cada momento. Além disso, os reservatórios funcionam como uma "poupança energética", que permite atender a demanda mesmo que ocorra uma seca severa. Segundo a PSR, em 2001, se os reservatórios estivessem cheios, eles poderiam suprir a demanda do país por 6 meses, mesmo que nenhuma afluência chegasse às usinas e nenhuma térmica fosse acionada. Em 2015, esse indicador se aproxima de 4 meses.
Mais recentemente, os reservatórios também ficaram com a responsabilidade de suavizar a sazonalidade da produção de bioeletricidade e as oscilações da energia eólica e solar. "Esta suavização contribui significativamente para a competitividade econômica destas novas fontes", aponta o relatório.
Os projetos hidrelétricos mais recentes no país – Santo Antônio (RO, 3.568 MW), Jirau (RO, 3.750) e Belo Monte (PA, 11.230 MW) – são usinas a fio d’água e os estudos de inventário de novas hidrelétricas, como as do Tapajós, por exemplo, não preveem a construção de usinas com reservatórios. De acordo com a PSR, a situação se agrava pelo fato de que as vazões dessas novas grandes usinas tem uma variabilidade muito mais acentuada do que as usinas existentes.
De acordo com o documento elaborado pela PSR, a vazão afluente à usina de Furnas, que tem um padrão típico da região Sudeste, no mês mais molhado é 4 vezes maior do que a do mês mais seco. Para as usinas do rio Madeira, esta proporção sobe para 7 vezes, e para a usina de Belo Monte, a razão é superior a 20 vezes. "As novas mega hidrelétricas estão mais para eólicas gigantescas do que para usinas tradicionais, em termos de variação de produção. A suavização destas imensas oscilações vai sobrecarregar o sistema de reservatórios atual", afirma o Energy Report.
Além disso, estudos realizados pela consultoria indicam que a perda relativa de capacidade de armazenamento que ocorrerá nos próximos dez anos levará a um aumento de 230% na emissão unitária – toneladas de CO2 por unidade de energia consumida – do setor. "Um dos efeitos da proibição dos reservatórios por razões ambientais é um tremendo impacto ambiental, que é o aumento das emissões de gases de efeito estufa", diz o relatório.
Para a PSR, os empreendedores acabam por eliminar precocemente os reservatórios nos estudos de inventário dada a complexidade do licenciamento das usinas. A censura prévia, defende a consultoria, precisa acabar, para que sejam avaliados objetivamente os custos e benefícios associados a cada potencial reservatório. Para isso, alguns estudos de inventário precisam ser revistos. A própria PSR desenvolveu uma ferramenta computacional, chamada HERA, que permite agilizar a identificação de bacias que devem ser analisadas em mais detalhes.