Em um período em que se discute a renovação dos contratos das distribuidoras de energia onde os índices de qualidade do serviço estão cada vez mais restritos, o segmento de medição do consumo ganha cada vez mais relevância. No foco das empresas que estão de olho nesse mercado está o uso cada vez maior de tecnologia embarcada em medidores e em soluções de análise e telemetria de dados que promete minimizar as perdas comerciais e dessa forma atender a critérios de eficiência e que possam elevar o nível de eficiência e rentabilidade dessas concessionárias.
Um fato parece ser irreversível nesse processo, que é o caminho da telemedição. Contudo, no Brasil, ainda há barreiras de custos e até mesmo físicas, pois há locais aonde a cobertura da rede de telecomunicações ainda não chegou. Por isso, as empresas ainda terão que conviver por um tempo com a necessidade de realizar a leitura de forma presencial.
De acordo com o diretor de serviços das CAS Tecnologia, Odair Marcondes, praticamente todas as empresas de distribuição tem algum nível de automação na hora da leitura. A empresa que fornece soluções e equipamentos para a comunicação de medidores, diz que está presente em 20 das 26 maiores distribuidoras do país. E que essas soluções estão em níveis de desenvolvimento em diferentes estágios.
“Há empresas que estão em um nível avançado e outras que estão apenas começando”, disse ele. “Por exemplo, na Light, nosso primeiro cliente hoje são cerca de 800 mil clientes telemedidos por meio de nossa solução, onde integramos os dados. Mas há clientes que estão apenas começando esse processo, e o mais adequado é iniciar pelos grandes consumidores que representam muitas vezes de 1% a 2% do número de medidores, mas que são responsáveis por cerca de 50% do faturamento”, apontou.
No geral, disse Marcondes, a meta dessas soluções é a de detecção de perdas em geral – incluindo as técnicas -, apesar de ter começado com o objetivo de buscar apenas fraudes, um fator que tira a eficiência das empresas. Outro fator que a telemedição traz ainda é a eficiência em termos de redução de custos operacionais à medida que vai sendo implantada já que diminui o tempo de leitura e o deslocamento de pessoal até os medidores, principalmente em casos de consumidores de baixa tensão, que são muitos e cujo consumo é menor.
Mas esse mercado está sendo disputado não apenas por empresas de desenvolvem soluções, até mesmo as tradicionais fabricantes de medidores adaptaram seu core business e hoje apresentam produtos que integram hardware e software. E isso tem chamado a atenção de gigantes no país. Dois exemplos são a Landis+Gyr, adquirida recentemente pela japonesa Toshiba, e a Elster, cujo controle passou para as mãos da norte-americana Honeywell.
A primeira, que possui mais de 100 anos, vem atuando no segmento de medição convencional e de uns anos para cá também em soluções de automação e redes inteligentes por meio de gestão de energia dentro das concessionárias. No foco, destacou o CEO da empresa, Marcelo Machado, o combate às perdas sendo que a vitrine dessa solução também é a concessionária fluminense Light e seu projeto de combate às perdas por meio do uso de telemedição.
“A medição vem evoluindo gradativamente desde os relógios eletromecânicos e agora temos os eletrônicos que devem evoluir mais ainda dentro da filosofia das redes inteligentes, mas ainda há um problema no país que é a infraestrutura seja de rádio, fibra óptica, ou outra qualquer que possibilita a comunicação. Esse fator poderá ser mais viável quando tivermos a evolução da internet das coisas”, diagnosticou ele.
A Landis+Gyr calcula que detém cerca de 30% do mercado de medidores no país e seu grande público são as distribuidoras, fato que não deverá mudar mesmo com o avanço da geração distribuída. No futuro, diz Machado, o segmento de medição terá como mais uma entre as já muitas funcionalidades a possibilidade de se implementar a tarifa branca, um processo que está em andamento ainda.
Essa é a mesma impressão do diretor presidente da Elster, Helio Lippert. Segundo ele, as distribuidoras ainda deverão responder pela maior parte desse mercado. No caso da empresa que lidera, representa 95% das vendas da companhia. Isso porque sempre será necessário uma medição de consumo de energia para que possa existir a cobrança, mesmo com a medição à distância, a unidade de consumo terá seu medidor.
O que vem acontecendo é justamente essa mudança de perfil tecnológico dos equipamentos. Tanto que atualmente a empresa registrou uma mudança nas fontes de receita da companhia. Onde antes 100% da receita era obtida por meio da venda de medidores, hoje esse patamar está em cerca de 40%, os demais 60% são obtidos por meio de soluções. “Houve uma guinada em nosso negócio. Estamos buscando produtos que possam oferecer valor agregado ao cliente e consequentemente maior margem”, afirmou Lippert. “Essa mudança no faturamento vem de dois aspectos, o mercado de abriu e aproveitamos essa possibilidade e paramos com a linha de produtos mais baratos e com menores margens”, indicou.
O valor agregado, diz Lippert, é aplicado não somente à Elster, mas a seus clientes, que veem na automação dessas atividades uma forma de obterem menores custos e mais eficiência no mercado de distribuição. E com o passar dos anos a exigência será cada vez maior com volumes de dados em uma unidade de baixa tensão tão grande quanto em uma unidade industrial. Mas, a infraestrutura ainda é um importante limitador para a expansão de aplicações mais robustas no segmento de distribuição, também apontou ele.