A oferta de crédito tem sido foco constante de discussões no setor de infraestrutura. Com a deterioração da economia brasileira, juros altos e maior rigor do BNDES, as empresas do setor elétrico têm enfrentado dificuldades para fechar a conta dos empreendimentos. Segundo o presidente da CPFL Renováveis, André Dorf, os títulos públicos têm sido os maiores concorrentes das companhias na hora de captar recursos para financiar os projetos.

"O financiamento hoje é um desafio para todas as indústrias ligadas à infraestrutura ou que de alguma forma são intensivas em capital porque o custo do dinheiro tem subido muito no Brasil", disse. "Hoje na parte de captação, o maior concorrente das companhias são os títulos do governo, que têm uma remuneração altíssima, liquidez e baixo risco. É um tripé que normalmente no livro texto diz que não deveria existir simultaneamente."

O mercado de capitais é uma alternativa para as empresas conseguirem recursos para financiar seus projetos. Contudo, os títulos do Tesouro, mas seguros e com prazo e remunerações conhecidas, estão mais atrativos para o investidor avesso ao risco. "O equity ficou mais caro e menos disponível. O mercado de capitais, que é uma forma de captação das empresas, também não está disponível. E o equity privado está bastante confortável com esses instrumentos de maior liquidez e menor risco", explicou Dorf na última quinta-feira, 4 de novembro, durante o Brazil Windpower. 

Outro desafio apontado pelo executivo está na captação de empréstimos-ponte. "Quando falamos sobre financiamento, o ‘time’ do BNDES desde a carta-consulta até o desembolso requer empréstimos-ponte. Esse mercado também está restrito. Os bancos estão bastante líquidos, mas com muito pouco apetite à crédito. O empréstimo-ponte também é um desafio para quem não tem crédito corporativo ou fiança para dar a esses bancos."

A alternativa disponível para ajudar a financiar os projetos tem sido as debêntures de infraestrutura. O propósito desse tipo de papel é alongar o prazo dos financiamentos. Porém, Dorf disse que essa operação tem ficado cara para o empreendedor, tanto pela competição com títulos públicos (mais atrativos e com menor risco) quanto pelo alcance limitado desse tipo de papel. As debentures se limitam as pessoas físicas e aos fundos de infraestrutura, sendo que o único benéficio é o incentivo fiscal. "A gente não atinge a fundos de pensão, investidores institucionais, fundos mútuos. A profundidade não é grande e a gente acaba ficando limitado a isso", criticou. 

"A indústria, de maneira geral, se apoiou nas últimas décadas no BNDES e não criamos instrumentos alternativos de longo e curto prazo adequados para financiar os projetos no Brasil", diagnosticou Dorf. Apesar das dificuldades, a CPFL Renováveis segue otimista com o setor no longo prazo e projeta investir R$ 2,3 bilhões nos próximos três anos.