A consultoria dinamarquesa Make realizou um estudo para identificar os gargalos logísticos do setor eólico brasileiro. Verificou-se que dificuldades no transporte dos equipamentos e na montagem destes podem comprometer o cronograma de obras dos parques, sob o risco de atraso na operação das usinas. Segundo Brian Gaylord, analista sênior da consultoria para a América Latina, os desafios do Brasil se intensificarão com o grande volume de projetos que serão implantados nos próximos dois anos, aproximadamente 5 GW.

O estudo concluiu que o aumento do tamanho dos equipamentos e a localização dos novos parques – concentrados mais no interior do país – impõem um grande desafio do ponto de vista de transporte desses componentes. Em 2009, as torres e as pás tinham, respectivamente, 80 metros e 40 metros. Hoje, o primeiro já alcança 120 metros enquanto o segundo, 61 metros. Só nos últimos três anos, esses componentes aumentaram mais de 12,5 metros, o que demonstra a velocidade que essas peças têm evoluído no Brasil. 

"A combinação do volume e do comprimento de pás causa um engarrafamento na indústria eólica", aponta o estudo. "Agora é mais difícil ou impossível enviar duas pás no mesmo veículo."  As empresas de transporte terão que comprar mais equipamentos com eixos especiais que permitam o movimento de pás com até 60 metros.

Torres mais altas e nacelles mais pesadas requerem também guindastes de maior tamanho. O estudo identificou que há uma escassez desses equipamentos para construção e manutenção de usinas eólicas. "A disponibilidade de guindastes com mais de 600 toneladas é baixa. Empresas de construção e montagem estão importando guindastes da Espanha e EUA", revela Gaylord.

Além disso, a alta carga sobre as rodovias e movimentos adicionais de peças com pesos excedentes prejudicam a infraestrutura de transporte da região. "São necessários investimentos na infraestrutura de estradas e rodovias no interior da região Nordeste. O governo precisa investir em paradas de descanso nas estradas." O estudo também identificou problemas com a escolta desses equipamentos por parte da Polícia Rodoviária Federal entre as regiões Sudeste e Nordeste. Também há um engarrafamento de pás no Porto de Santos. 

"Investimentos em guindastes maiores e equipamentos especializados de transporte de pás são necessários para poder assegurar o crescimento estável do mercado. São importantes melhorias na infraestrutura de transporte no interior do Nordeste. Sem estes investimentos o mercado sofrerá atrasos nas entregas de componentes e também a conexão das usinas eólicas", conclui o estudo, que será oficialmente publicado em novembro, mas foi antecipado no Brazil Windpower, evento que está sendo realizado no Rio de Janeiro.