Com apenas quatro dos onze lotes oferecidos sendo arrematados e com disputa em apenas um deles, o leilão de transmissão realizado na última quarta-feira, 26 de agosto, deixou o setor em alerta. Considerado um negócio sem grandes riscos, o certame não atraiu os tradicionais competidores. Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, classificou o resultado como preocupante, uma vez que o governo e a Agência Nacional de Energia Elétrica vinham fazendo mudanças para tornar os lotes mais atrativos, como diminuir os riscos e aumentar o retorno com os projetos. "Pelo visto essas medidas não estão fazendo efeito", afirma.

Para o professor, os players do setor ainda sentem os efeitos da MP 579. A Eletrobras ficou sem fôlego financeiro e a ISA recuou na expansão no país. A demora em estabelecer os valores de indenização por conta de ativos renovados e o governo indicar o prazo de pagamento rondam essas empresas. "De certa maneira, o governo tem um pouco responsabilidade no resultado, porque isso se arrasta desde 2013", observa Castro.

A desistência desses tradicionais competidores também pode ser explicada por eles já estarem comprometidos com grandes projetos de transmissão, como é o caso da State Grid, que está com as LTs de Belo Monte. Um dos lotes vendidos no leilão ficou com a Planova, estreante em leilões de LTs. A entrada dela no setor foi elogiada por Ricardo Savoia, da Thymos Energia. Segundo ele, esses players poderão absorver uma série de linhas e subestações menores que os players tradicionais não teriam interesse por estarem comprometidos com projetos maiores.

Outro aspecto citado foi o financiamento oferecido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. As novas condições apresentadas pelo governo na linha de financiamento não foram capazes de comover o mercado. Para Savoia, esse entrave também impactou no leilão. "Há uma dificuldade de captação de recursos e outros aspectos macroeconômicos acabam refletindo na tomada de decisão", avalia.