A proposta do governo para solucionar o custo do déficit hídrico para os geradores “deve ser vista com bastante cautela”, na opinião do head de energia da XP Investimentos, Rafael Carneiro. A avaliação do analista reflete a reação inicial do mercado à MP 688, que trata da repactuação do risco hidrológico compartilhado pelos agentes de geração dentro do Mecanismo de Realocação da Energia.
Os termos da MP e a regulamentação proposta pela Agência Nacional de Energia Elétrica ainda estão sendo dissecados pelos agentes, desde a última terça-feira,18 de agosto, data em que as regras foram oficialmente divulgadas. “O maior desafio dessa proposta está na forma como o governo pretende reverter as perdas financeiras de curto prazo do setor no longo prazo, em um ambiente de tantas incertezas como o setor elétrico”, avalia Carneiro.
O especialista da XP observa que os geradores hidrelétricos carecem de ferramentas mais adequadas para a mitigação de seus riscos, e a proposta do governo é suprir essa carência. A forma como isso será feito foi discutida em várias encontros do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, com agentes do setor. Foram realizadas também discussões conceituais sobre o assunto na Agência Nacional de Energia Elétrica.
Findo o processo de negociação e publicadas as bases de um acordo, lideranças das associações empresariais do setor ainda têm dúvidas quanto à aderência da MP e da proposta da Aneel que está em audiência pública. As manifestações do setor são pontuais, mas alguns executivos já se manifestam favoráveis à solução proposta.
É o caso do presidente da CPFL Energia,Wilson Ferreira Junior, ao destacar esta semana que a MP não transfere o custo da realocação do risco para o consumidor, garante o equilíbrio econômico-financeiro do gerador e dá condições de atratividade aos investimentos em expansão do sistema. “Não havia como postergar o enfrentamento da questão do GSF”, afirma, em nota à imprensa.
Na avaliação do executivo, o valor do prêmio a ser pago pelo gerador, por meio da redução no preço dos contratos de energia “é compatível ao risco transferido”. Esta é exatamente a conta que terá de ser feita pelo geradores antes de aderir voluntariamente ao acordo.