O desligamento de 21 térmicas (2 GW médios) reduzirá pela metade os Encargos de Serviço do Sistema (ESS) em agosto, passando de R$ 1,9 bilhão para R$ 969 milhões. De agosto até dezembro, a expectativa é de uma economia da ordem de R$ 5 bilhões, segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Para a Abrace, que representa os grandes consumidores industriais de energia e principais pagadores do ESS, a redução é bastante positiva, por outro lado, desperta preocupação quando a aderência do modelo à realidade do setor.
“Encargo é algo negativo, sobre tudo o ESS porque não se consegue prever os custos. O agente assina um contrato, paga um valor e de repente tem um despacho fora da ordem de mérito. Isso vira um custo que não se previu. Portanto, sob o ponto de vista de custo, essa redução é bastante positiva”, disse Camila Schoti, coordenadora de Energia Elétrica e Gás Natural da Abrace.
“Mas há uma preocupação em relação a aderência do modelo com o real custo marginal do sistema. Quando você começa a olhar para o CMO [Custo Marginal de Operação] e para o PLD no futuro, há uma queda bastante acentuada entre agosto de 2015 e setembro de 2016. Isso seria bom se a gente ainda não tivesse despachando térmica de 600 reais o MWh. Ainda há um descolamento entre o que o modelo está dizendo e o que deveria ser o preço”, avalia. “Esse descolamento entre o custo da térmica e o PLD reflete uma necessidade de aprimoramento do sinal de preço”, completa.
A diferente entre o teto do Preço de Liquidação das Diferenças (R$ 388,48/MWh) e o valor da térmica mais cara é o que forma o ESS. Todos os consumidores pagam esse encargo, mais os eletrointensivos sentem esse impacto mais rápido. Isso porque eles pagam os valores mensalmente e também consomem um volume maior de energia.
Nos últimos meses, essas usinas eram despachadas de maneira a contribuir para a recuperação dos níveis dos reservatórios. Contudo, a redução do consumo e a perspectiva de afluências mais positivas até o próximo período úmido levaram o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico a optar pela redução do despacho térmico a partir de 8 de agosto. As usinas retiradas possuíam Custo Variável Unitário (também conhecido como o custo do combustível) superior a R$ 600/MWh.
Segundo cálculos da consultoria especializa GV Energy & Associados, a retirada dessas usinas da base representa uma redução de aproximadamente R$ 2,50/MWh do ESS cobrado mensalmente dos consumidores livres. A média do ESS no ano (janeiro-junho) na região Sudeste é de R$ 6,85/MWh, o que está muito acima da média histórica, que rondava a valores não superiores a R$ 2,00/MWh, segundo a consultoria.
“Toda notícia de redução de custo é boa nesse momento em que a indústria tem queda de produção e de faturamento. Contudo, saber que a gente continua com 14,8 GW de térmica ligada na matriz energética ainda preocupa muito”, disse Pedro Machado, sócio-diretor da consultoria.
Três fatores combinados explicam decisão do CMSE: expressiva redução da carga nacional, a expectativa de afluências melhores para o resto do ano, e a permanecia de um PIB baixo para o ciclo do primeiro semestre de 2016. O CMSE calcula que os reservatórios do Sudeste, Sul, Nordeste e Norte chegarão no próximo período húmido com 37,2%, 97%, 21,9% e 74,3%, respectivamente. Isso significa que os reservatórios do Sistema Interligado Nacional chegarão ao próximo período húmido com 40,4% da capacidade.