O diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Alupar, José Luiz de Godoy, considera a hipótese de devolver a concessão do linhão Manaus-Boa Vista. Segundo o executivo, que conversou na última quinta-feira, 13 de agosto, com analistas de mercado, a empresa não pode "obrigar a Funai a se manifestar" sobre o projeto, que há três anos aguarda a liberação da licença prévia. "É uma questão complexa, tem todo um envolvimento indígena. Essa linha já está atrasada, devia estar operando e até hoje a gente não tem a licença previa", lamentou.

O sistema de transmissão, que deveria ser energizado neste ano, é essencial para conectar o estado de Roraima ao Sistema Interligado Nacional. A linha tem aproximadamente 315 km e passa pela Terra Indígena Waimiri Atroari, situada entre os estados do Amazonas e Roraima. O Consórcio Boa Vista (formado pela Eletronorte e pela Alupar Investimentos) é responsável pela construção do trecho que cruza dez municípios entre Manaus e Boa Vista.

Godoy disse que a companhia está chegando no limite e que já comunicou a Agência Nacional de Energia Elétrica sobre a possibilidade de devolver a concessão. "Já avisamos, no limite a gente devolve a concessão porque o Estado não deu a licença", desabafou. A construção do sistema é importante, pois, além de melhorar a qualidade do fornecimento de energia no estado de Roraima, vai reduzir os valores gastos com a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) e com a importação de energia da Venezuela.

Hoje, o estado de Roraima é basicamente atendido por térmicas, que tem um custo de combustível alto para o país, já que todos os consumidores brasileiros ajudam a pagar essa conta. Esse tipo de geração representa um custo para a Rede Básica que chega a quase R$ 1 bilhão por ano. "No limite, a gente entrega o contrato porque não temos que obrigar a Funai a se manifestar", disse. Para Godoy, o fracasso desse projeto tem consequências relevantes para o país, pois sinaliza que qualquer empreendimento com intervenção em áreas próximas ou com impacto em reservas indígenas não será viabilizado.