Foi energizada esta semana a maior subestação dedicada ao escoamento de projetos eólicos no Brasil. Com investimento superior a R$ 110 milhões, a SE Curral Novo do Piauí é um projeto fruto de uma parceria entre as geradoras Queiroz Galvão Energia, Casa dos Ventos, ContourGlobal e Chesf. “Concluímos o empreendimento em 12 meses, coisa que só a iniciativa privada conseguiria fazer com essa velocidade e em uma região de difícil acesso”, afirmou à Agência CanalEnergia, Roberto Di Nardo, diretor técnico da Queiroz Galvão Energia.
Localizada na Serra do Inácio, no município de Curral Novo, no Piauí, a subestação contribuirá para escoar 1.200 MW de capacidade instalada proveniente de seis complexos: Ventos do Araripe I e II (576 MW) da Casa dos Ventos; Caldeirão I e II (415,8 MW) da Queiroz Galvão Energia; Chapada do Piauí II (172,4 MW) da ContourGlobal em parceria com a Chesf; e Chapada do Piauí III (59,2 MW) pertencente somente a ContourGlobal.
A SE Curral Novo se destaca por quatro características: por estar em uma região de difícil acesso, por sua capacidade, pela velocidade em que a obra foi executada, mas principalmente por não ser um projeto objeto de leilão. O diretor de Desenvolvimento de Novos Negócios da Casa dos Ventos, Lucas Araripe, explicou que esse é um empreendimento que partiu de investidores privados interessados em encontrar uma solução economicamente viável para escoar a energia de suas usinas.
A SE Curral Novo do Piauí II receberá dos parques eólicos energia em 230 kV e elevará para 500kV, para então distribuir no Sistema Interligado Nacional. A subestação, que possui sete autotransformadores, de 200 MVA cada, fará o seccionamento de uma importante linha de transmissão em 500 kV da State Grid, que liga São João do Piauí à Milagres e é responsável pela transferência de energia entre as regiões Norte e Nordeste do país.
“Trata-se de uma conexão dedicada, feita por um pool de empresas que tiveram um trabalho bastante desafiador do ponto de vista técnico, regulatório e jurídico”, destacou Di Nardo, da Queiroz Galvão Energia. Os equipamentos foram fornecidos pela francesa Alstom, sendo a Construtora Sucesso responsável pelas linhas.
Além de contribuir para a melhoria da infraestrutura elétrica da região, a construção do empreendimento foi um importante gerador de empregos para os municípios no seu entorno. Durante o período de obras foram gerados cerca de 1.000 empregos diretos e indiretos. “Geramos oportunidade de trabalho e desenvolvimento socioeconômico em uma região bastante carente”, frisou Di Nardo.
Contexto – Ao estudar a energia eólico da Chapada, a Casa dos Ventos identificou um potencial muito grande. Os custos com conexão, porém, poderiam inviabilizar os projetos. Dessa forma, a empresa adotou como estratégia desenvolver uma série de projetos e vender parte destes para outros empreendedores. O passo seguinte foi formar um consórcio com as empresas detentoras desses projetos para que juntas compartilhassem os custos com a transmissão. “É como se fosse uma ICG que, ao invés de ser viabilizada por uma licitação, foi feita por entes privados que se juntaram para otimizar custos”, explicou Araripe, da Casa dos Ventos.
De acordo com diretor, o projeto foi pensado considerando uma possível ampliação. Dessa forma, assim que houver a necessidade, a capacidade de transformação da subestação poderá ser duplicada. Isso demandará um novo investimento entre R$ 80 e 90 milhões. Em uma situação de duplicação, a nova fase da subestação seccionará a linha de 500 kV que está sendo implantada pela Abengoa Brasil. "Qualquer ampliação da subestação será fruto de projetos que vencerão futuros leilões", explicou o diretor, que não descartou a possibilidade de usinas viabilizadas no mercado livre também se beneficiarem desse sistema.
Para Elbia Gannoum, presidente-executiva da ABEEólica, a iniciativa em investir em sistemas de transmissão está em linha com que o próprio ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, vem pedindo aos geradores eólicos. Ele defende que os empreendedores eólicos também precisam investir no restante da cadeia. “Dessa forma, os geradores já estão garantindo a transmissão e isso é muito importante”, disse.
“A experiência que tivemos com atraso de linhas e o fato de a energia eólica estar crescendo muito rápido, é razoável que a transmissão de energia eólica também seja um grande potencial de investimento. Talvez as outras formas de geração de energia, por suas próprias características, não permitiam esse tipo de negócio. Acho que é uma tendência [para o setor eólico], e pode acontecer mais vezes. É saldável que aconteça”.