O anúncio do desligamento de 2 mil MW médios feito pelo governo federal na tarde desta quarta-feira, 5 de agosto é visto como um pequeno alívio para o setor. Isso porque ainda é grande a necessidade que o país tem dessa fonte e que deverá ficar ainda acima de 10 GW médios despachados. Do lado positivo essa medida ajudará a reduzir levemente o índice e o impacto do GSF já que os custos operacionais serão reduzidos em cerca de R$ 5,5 bilhões pelo próprio governo.
Na avaliação do presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica, Flávio Neiva, essa medida é positiva e se justifica. Segundo ele, com o PLD no atual patamar de R$ 110/MWh e a perspectiva de redução de carga prevista não seria racional manter todas as usinas térmicas despachadas, pelo menos as mais caras podem ser desligadas. Como o PLD está à metade do que era no ano passado, o potencial impacto será menor sobre o déficit de geração hídrica.
“É um contrassenso manter as térmicas mais caras ligadas diante da melhoria das afluências e dos reservatórios do Sul associada à redução da carga que se está verificando”, comentou o executivo da Abrage. “Agora precisamos acompanhar e verificar se esse desligamento provocará a desestocagem dos reservatórios, fato que eu não acredito que ocorra”, acrescentou.
Essa medida é tomada em um momento no qual o governo federal negocia uma solução com os geradores para o GSF que este ano deveria ter um impacto de R$ 20 bilhões segundo estimativas de mercado. O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, vinha afirmando que o governo queria como contrapartida dos agentes a retirada das liminares que protegiam as empresas da cobrança desses valores. Neiva rejeitou a ideia de que esse anúncio seria uma sinalização de que o governo estaria dando um primeiro passo nesse sentido. “As condições do mercado que permitiram esse desligamento”, reforçou.
Na visão da consultoria PSR, um despacho térmico da ordem de 13 GW médios permitiria os reservatórios chegarem a 20%no final do ano, desde que seja registrada a ocorrência de 100% da MLT no segundo semestre.
O Coordenado do Gesel-UFRJ, Nivalde de Castro, destacou que essa redução do despacho térmico prova que o modelo é imprevisível no Brasil. E isso, continua, traz incertezas quanto ao que se espera no futuro, uma situação que precisaria ser revista com o objetivo de mitigar essa volatilidade. “Quando se imaginaria que em pleno período seco teríamos o desligamento de térmicas?”, exemplificou ele lembrando que a aposta era de se manter as UTEs ligadas ao longo de todo o ano.
Para ele essa medida traz benefícios ao consumidor e a uma leve redução do GSF. Mas ressalta a importância do impacto que essas liminares ainda têm sobre aqueles agentes ainda descobertos e que, segundo as regras do mercado, ficam com a conta dos demais.
Apesar desse otimismo ainda há quem se coloque contrário a essa medida. De acordo com Erik Rego, consultor da Excelência Energética, a melhor opção seria manter as 21 usinas que serão desligadas operando para trazer maior nível de segurança ao sistema. Segundo ele, o preço político e financeiro dessa geração já está posto no mercado e valeria muito mais a pena a manutenção dessas usinas e reforçar o despacho térmico até final do ano em 15 GW médios.
“Eu não faria isso [desligar térmicas] porque o Newave é historicamente otimista e quando se faz um back test vemos que o nível dos reservatórios dado pelo software é maior do que temos na realidade”, alertou. “Eu vejo esse momento como de oportunidade, se está boa a condição do sistema temos uma opção de elevar os níveis dos reservatórios até o ano que vem e trazer mais segurança no longo prazo”, apontou.
Segundo o governo serão desligadas 21 térmicas de custo acima de R$ 600/MWh. Entre elas a de maior CVU do país a UTE Xavantes (GO, 53,7 MW) ainda não havia sido comunicada oficialmente até o final da tarde desta quarta-feira, 5.