A mudança do perfil de geração no Brasil com maior presença de UTE e fontes intermitentes como a solar e eólica devem levar o país a rediscutir o mecanismo de realocação de energia e o GSF. E essa medida se mostra necessária para o curto prazo para se evitar algo semelhante ao resultado da crise hídrica pela qual o país vem passando nos últimos anos. O presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia e do Forum das Associações do Setor Elétrico, Mário Menel, defendeu essa revisão dos dois mecanismos de mitigação de risco implementados com a lei 10.848/2004, que instituiu o atual modelo do setor elétrico. “Essa revisão é normal, pois as condições mudaram desde que o modelo entrou em vigor”, disse o executivo.

Esse entendimento de que a mudança no perfil de geração vem pressionando o setor elétrico é citada até mesmo nas decisões liminares que a Justiça vem expedindo para a proteção de empresas contra o déficit de geração. Em uma das mais recentes, emitida a favor da Quanta Geração, o juiz lembrou que cerca de 10 anos atrás a geração de energia nacional estava concentrada em 90% de fonte hídrica e os 10% restantes para as demais, com prevalência da térmica nesse montante complementar.
Contudo, esse fator mudou ao longo dos anos com o acréscimo de novas usinas e da diversificação das fontes. De acordo com os dados atualizados nessa quarta-feira, 5 de agosto, no Banco de Informações de Geração da Aneel, o Brasil possui 138.155 MW de capacidade instalada, espalhados por 4.210 empreendimentos. Desse volume, 61,6% é originado de UHEs com 87,7 GW. Logo em seguida aparecem as UTEs com 28,52% da matriz elétrica e 40,9 GW de capacidade. Além disso, a eólica já desponta com 4,67% de toda a capacidade nacional.
E para os próximos anos, a relação de forças deverá continuar nesse mesmo patamar. Há 21,5 GW em construção e dessa potência outorgada, a maioria ainda está com UHEs, muito em função da UHE Belo Monte (PA, 11.233 MW) pois há 15,2 GW sendo erguidos no país o que representa 71% do total. Mas há ainda os empreendimentos com a construção não iniciada, que somam 19,5 GW sendo que 40,7% são de UTEs e outros 41,7% de eólicas. As UHEs ficam com apenas 2,29% de toda essa capacidade. Até mesmo a fonte solar fotovoltaica já está com participação maior, com 5,62% da potência outorgada em cuja a construção ainda não foi iniciada.
Segundo dados preliminares de junho da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, as UHEs (acima de 30 MW) representaram 61,7%  da geração medida, as PCHs aparecem com 4,3%, as térmicas com 30% e a fonte eólica respondeu por 3,8% do total.
“No passado recente tinha 90% da energia sendo gerada pelas hidrelétricas e há menos de uma década quando o GSF era de 5% no máximo havia o corte de carga”, lembrou Menel. “Hoje a relação das UHEs para as demais fontes está em 60/40 [para as UHEs] e com isso o que acontece, podemos chegar a um GSF de 25% sem corte de carga e isso é insuportável. Hoje já estamos com quase 20% e sem corte de carga. Isso demonstra que precisamos revisitar o GSF estruturalmente e tem que ser feito o mesmo com o MRE, pois naquele tempo havia margem de manobra, coisa que não existe hoje em dia”, ressaltou o presidente da Abiape e do Fase.
Menel disse que uma ideia a ser analisada poderia passar, inclusive, para entrada das demais fontes no MRE. Isso poderia trazer um balanço mais global para o setor já que quando há o excedente de energia das UHEs essa energia secundária é muito barata e quando há momentos como o que se tem agora o insumo está no patamar mais elevado. “Pode ser uma solução, mas o que precisamos agora é apagar o incêndio do setor”, finalizou.