O setor eólico passa por um momento onde o clima de investimento preocupa. No cerne da questão está a capacidade de financiamento dos projetos já que o BNDES tem reduzido sua participação sobre aporte dos projetos. O que parece ser consenso é de que o banco de fomento ainda é o principal parceiro do segmento, mas que os investidores precisam encontrar alternativas para viabilizar os projetos, a custo de capital mais elevado e como consequência com uma tarifa naturalmente mais elevada.
Segundo Lauro Fiuza, vice-presidente da ABEEólica, o momento se mostra incerto e classificou como inconcebível alavancar um projeto eólico em 50% como tem ocorrido atualmente. Ainda mais quando se olha para o nível da taxa básica de juros, a Selic, que foi elevada essa semana para 14,25% pelo Banco Central. “Precisamos de uma taxa mínima de retorno, hoje se investir o dinheiro em um banco se tem pelo menos um retorno da Selic ante um retorno de até 5% nos projetos. Os fundos de investimentos e de pensão que são nossos sócios são os primeiros a exigir taxas de retorno mais elevadas”, afirmou o executivo durante o 4º Encontro de Negócios da ABEEólica, que acontece nesta quinta-feira, 30 de julho, em São Paulo.
Outro problema apontado e que vem preocupando o setor é a demora na liberação dos recursos em um momento próximo à finalização dos projetos. Isso requer uma grande disponibilidade de equity das empresas ou empréstimo-ponte, o que vem dificultando a equação financeira já que a percepção de risco no mercado aumentou. Outra opção de financiamento passa pela emissão de debêntures de infraestrutura ou bancos comerciais, contudo o custo é o maior o que reflete em um nível de tarifas mais elevado.
Segundo Edson Ogawa, representante do banco Santander no evento promovido pela ABEEólica, as alternativas de financiamento de projetos no setor eólico existem, mas a questão principal é a precificação. Atualmente a referência é o custo do BNDES que ronda a TJLP que está na casa de 6,5% mais uma taxa básica de remuneração de 1,2%. Mas, ressaltou ele, com a Selic a 14,25% não tem como ser competitivo. “Nosso entendimento é de que o mercado financeiro absorveria esse financiamento, mas com um custo superior e com reflexo na tarifa”, afirmou ele.
Essa opinião é a mesma do representante do Itaú, Marcelo Girão. Segundo ele, sem a participação do BNDES o impacto será direto no preço da energia. Segundo ele, é necessário que se envolva o mercado de capitais no processo de financiamento de projetos.
Essa percepção é avalizada até mesmo por investidores. Segundo o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Renova, Pedro Pilleggi, é necessário criatividade para financiar o setor e utilizou o caso da própria Renova e a operação com a SunEdison e TerraForm Global para reciclar capital e garantir menor custo de capital. “O BNDES continua a ser o principal mas estamos vendo como complementar essa participação. Acho que é inexorável buscar o mercado de capitais nesse processo”, resumiu ele.
O diretor de Infraestrutura e Insumos Básicos do BNDES, Roberto Machado, também apontou o caminho do mercado de capitais pela emissão de debêntures de infraestrutura como um recurso que o banco apoia. Tanto que nas condições de financiamento permite a alteração da tabela de amortização da dívida de SAC para Price ao passo que se emite esses papeis ao mercado. Contudo, desde 2012, quando se aprovou uma lei que permitiria essa emissão houve apenas duas operações realizadas ao valor de R$ 236 milhões.