O recente entrosamento entre os investidores e o governo federal acerca de preços dos leilões parece ter chegado ao fim com a divulgação dos valores para o A-3 de 21 de agosto. Com a aprovação do edital do certame pela Agência Nacional de Energia Elétrica vieram as reclamações e as perspectivas negativas quanto a contratação de energia para o ano de 2018. No contexto estão as dúvidas acerca da real necessidade de energia para o período já que há a projeção de redução de demanda no país e uma pressão adicional com as novas condições de financiamento dos projetos. O preço-teto para a fonte eólica ficou em R$ 184/MWh, para as PCHs em R$ 216/MWh enquanto as fontes térmicas a biomassa e gás natural a R$ 218/MWh.

Segundo a análise de Thaís Prandini, diretora da Thymos Energia, os valores estão apertados para todas as fontes e para o gás natural é inviável de se viabilizar a contratação de energia. “O capex aumentou muito e por isso não devemos ver muita contratação de energia nesse leilão. Os preços teto não deverão atrair muitos investidores. Apenas para PCHs que não está ruim o preço, mas o problema ainda pode estar na demanda e as condições econômicas do país”, afirmou a diretora da consultoria.
De acordo com a presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica, Élbia Silva Gannoum, o custo do setor aumentou. E isso deve-se, principalmente, ao aumento das taxas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, além da redução da participação da instituição de fomento no financiamento. Além disso, lembrou, esse ano é que se alcança o patamar mais elevado da nacionalização de equipamentos, o que vai pressionar mais ainda os custos, assim como a taxa de câmbio. Outro ponto destacado foi o risco da transmissão estar com o empreendedor.
“O preço não foi o que se esperava. A expectativa era de preços superiores a R$ 200/MWh. Nos reunimos com toda a cadeia do setor eólico e enviamos um estudo ao ministro [de Minas e Energia, Eduardo Braga] em 19 de junho dizendo que o preço teto deveria ser algo em torno de R$ 210/MWh diante dos novos custos impostos”, lembrou a executiva. Com esse cenário, relatou a executiva da ABEEólica, já há investidores que nem vão entrar na disputa. Inclusive, o setor já está se articulando para pedir um segundo A-5 para este ano.
Pelo lado da Cogen, o presidente executivo da entidade, Newton Duarte, também criticou o nível de preços. Segundo ele, não há mais projetos como os que foram vendidos no ano passado. Não há mais projetos no patamar de R$ 215/MWh no setor. Além do mais, fazendo coro à ABEEólica, ele relatou o aumento de custo de financiamento como o fator fundamental para determinar a falta de interesse que deve marcar o certame. “Nossa expectativa não é boa, deveriam ter repetido os R$ 281/MWh do LER e deixar o pessoal brigar”, sugeriu ele. “Talvez nem tenhamos proponentes em biomassa, com o quadro desfavorável não vai vender energia nesse leilão”, alertou.
Já no segmento de PCHs, o presidente executivo da AbraPCH, Ivo Pugnaloni, destacou que pode ser que o setor viabilize projetos. Contudo, depende muito de cada PCH, já que são projetos customizados e cada um tem um custo diferenciado do outro. Mas, um fator chamou sua atenção, a proximidade de preços com a fonte a biomassa. No passado essa relação era bem maior em desfavor da fonte que representa. Ele corroborou o que a diretora da Thymos Energia disse quando a perspectivas, mas não quis arriscar uma estimativa de contratação. Disse que esse valor determinado para preço teto da PCH não seria um valor impraticável.