O atraso na operação da usina nuclear de Angra 3 causará um prejuízo de aproximadamente R$ 5 bilhões à Eletronuclear. A energia da usina atômica está entre as mais competitivas do país e poderia estar contribuindo para reduzir os custos da tarifa de energia no próximo ano. Além disso, como a energia da usina foi comercializada em contrato de reserva, todos os consumidores saem perdendo, inclusive agentes do mercado livre que deixam de se beneficiar dessa oferta. A expectativa da Eletronuclear é que a usina entre em operação apenas em agosto de 2018, o que representará uma postergação de 32 meses. A empresa informou que contabiliza um prejuízo de R$ 156 milhões por mês por conta desse atraso.
Angra 3 está planejada para ter 1.405 MW de capacidade instalada e deveria entrar em operação em janeiro 2016, segundo a Portaria MME nº 980, de 21 de dezembro de 2010. Para a Eletronuclear, o atraso do empreendimento é de apenas 18 meses. “O contrato de energia de Angra 3 junto à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica prevê o início do fornecimento de energia em 31 de dezembro de 2016. Portanto, o atraso acumulado está em 18 meses, uma vez que, hoje, a previsão do início do fornecimento de energia elétrica em testes é agosto de 2018, com início de operação comercial previsto para dezembro”, garante a empresa. O modelo do Operador Nacional do Sistema Elétrico, porém, só conta com a usina em janeiro de 2019, o que pode aumentar a frustração de receita da companhia e postergar ainda mais a entrada de energia barata no portfólio das distribuidoras.
Entre os impactos causados no cronograma que provocaram esse atraso estão: a desmobilização unilateral de pessoal da empreiteira Andrade Gutierrez entre abril e julho de 2014 sob alegação de desequilíbrio econômico financeiro do contrato; e o início da montagem eletromecânica que demandou recursos, impugnação e negociações para a redução do preço proposto pelo consórcio vencedor. Além disso, também influíram no cronograma do empreendimento questões ligadas ao licenciamento nuclear; ao atraso na fabricação de equipamentos nacionais; e dificuldades na viabilização do financiamento para cobertura das atividades da Areva (bens e serviços importados), esclareceu a Eletronuclear
Cálculos elaborados pela consultoria especializada GV Energy & Associados, a pedido da Agência CanalEnergia, indica que o rombo do empreendimento será ainda maior. A expectativa média de produção da usina é 902.572 MWh. Com uma tarifa que era de R$ 148/MWh em 2009, que atualizada para 2015 fica em aproximadamente R$ 215/MWh, a perda mensal está estimada em R$ 194,1 milhões, o que em 32 meses será R$ 6,2 bilhões. O custo variável unitário de Angra 3 atualizado está em R$ 25,58/MWh. Com isso, foi possível identificar que a usina também deixará de faturar aproximadamente R$ 26,2 milhões mensais com CVU, o que equivale a mais de R$ 838,4 milhões em 32 meses.
Por exemplo, o volume de Angra 3 de 1.405 MW – se ligada hoje – representaria 8% da capacidade térmica instalada despachada mensalmente. Assim, se a mesma estivesse em operação seria possível substituir 1.405 MW hoje ao preço de R$ 800/MWh, reduzindo o encargo mensal (ESS) em aproximadamente R$ 370 milhões mensais – equivalente a uma redução potencial de 66% do encargo hoje rateado entre os consumidores. "Toda essa energia já poderia estar no portfólio das distribuidoras nacionais colaborando para minimizar os altos custos tarifários e ao mesmo tempo reduzir o despacho térmico fora da ordem de mérito e os encargos associados", lembrou Pedro Machado, sócio-diretor da consultoria.
No final de junho, o Governo Federal autorizou a diretoria da Eletronuclear a seguir com a contratação de um empréstimo de R$ 3,8 bilhões junto à Caixa Econômica Federal. Os recursos serão utilizados para a compra de equipamentos importados e para o pagamento de serviços de engenharia em Angra 3. A União atuará como garantidora da operação.
Angra 3 será a terceira usina da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, localizada na praia de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ). O investimento total do empreendimento está estimado em R$ 14,9 bilhões, sendo que aproximadamente 75% desse valor serão investidos dentro do Brasil. Quando entrar em operação comercial, a nova unidade será capaz de gerar mais de 12 milhões de MWh por ano, energia suficiente para abastecer as cidades de Brasília e Belo Horizonte durante o mesmo período. Com Angra 3, a energia nuclear passará a gerar o equivalente a 50% do consumo do Estado do Rio de Janeiro. O Brasil tem duas centrais nucleares em operação: Angra 1 (640MW e 2 (1.350 MW).