A concentração de usinas eólicas entrando em operação no mês de janeiro se tornou um desafio para a indústria desse setor. Com isso, os pedidos de equipamentos chegam ao mesmo tempo a cadeia produtiva, prejudicando a capacidade de atendimento à demanda. O tema é um dos desafios do mercado eólico identificados pelo estudo desenvolvido pelo WWF-Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Energia Eólica e a LCA Consultores.

O estudo sugere que a entrega em operação dos parques seja feita de forma escalonada, por exemplo, com entregas quadrimestrais ao longo do ano "como forma de evitar sobreposições e picos, sobretudo quando da contratação de insumos, partes e peças junto à indústria local". Outro efeito negativo dessa concentração é a geração de períodos de ociosidade, situações em que os pedidos são insuficientes nas fábricas de boa parte dos fornecedores de insumos ou equipamentos. Além disso, há pressões de preço ao longo do período de construção ou indisponibilidade de alguns materiais têm dificultado o plano de trabalho e de entrega de alguns fabricantes, que têm seus preços fixados junto aos empreendedores. "É preciso identificar esses casos e buscar arbitrar alguns procedimentos para dar fluidez à cadeia produtiva", defende os especialistas.

A presidente executiva da Abeeólica, Elbia Gannoum, disse que o tema está no radar da associação e já foi levado ao Ministério de Minas e Energia, embora a discussão não tenha sido travada com profundidade. “Acontece que em um determinado ano a gente vende mais e em outro menos. Os fabricantes dizem que a encomenda vem tudo de uma vez e o ideal seria se fizesse um escalonamento. Outro fator que a é a logística. Como a indústria está crescendo muito alto, você também aliviaria a demanda por serviços”, explica Elbia.

Outra recomendação presente no estudo é que haja previsibilidade e regularidade nas contratações a serem realizadas a partir dos leilões, de modo a estabelecer uma demanda contínua de energia eólica. "Há gaps significativos nas novas contratações em alguns anos (como 2012, em que houve um volume baixo de novas contratações), seguidos de forte concentração de novos contratos em outros anos (como em 2013), o que tem prejudicado o planejamento", diz o estudo. Ao longo dos últimos sete anos, foram vendidos 1,8 GW de capacidade em 2009; 2 GW em 2010; 2,9 GW em 2011; 282 MW em 2012; 4,7 GW em 2013 e mais 2,1 GW até dezembro de 2014. O preço médio atualizado para o período 2009- 2014 resulta em R$ 135/MWh, o equivalente a US$ 56/MWh nas cotações atuais do dólar.

O relatório também apresenta outros pleitos já conhecidos no setor, como o aperfeiçoamento do planejamento e expansão dos sistemas de transmissão, melhorias na infraestrutura logística, e incentivos para a penetração da geração eólica também no mercado livre. Estimativas feitas a partir dos Atlas de Potencial Eólico desenvolvidos recentemente dão conta de uma geração eólica potencial superior a 300 GW no Brasil – pouco mais do que o dobro do estimado na última edição do Atlas, em 2001. Clique para ler a íntegra do estudo, "Desafios e Oportunidades para energia eólica: recomendações para políticas públicas".

(Nota da Redação: matéria alterada às 11:47 horas do dia 3 de julho de 2015 para acréscimo do terceiro parágrafo)