Saber de forma instantânea e atualizada o consumo de energia elétrica de cada equipamento ligado a uma tomada. Usar essas informações em tempo real e online para gerenciar melhor o uso da eletricidade e com isso reduzir o resultado final da conta de luz. Essa é a proposta inicial de um grupo de engenheiros que pretendem revolucionar a dinâmica do consumo de energia em baixa tensão. A ferramenta de gestão energética foi criada pela GreenAnt. A ideia é uma das cinco ações inovadoras vencedoras do prêmio Innovation Day, promovido pela primeira vez no Brasil pela GDF Suez, agora Engie.
Em entrevista exclusiva à Agência CanalEnergia, o engenheiro de controle e automação Pedro Bittencourt, sócio da empresa, revelou os planos ambiciosos dessa nova tecnologia, já em fase de testes. Inicialmente com foco em pequenos e médios consumidores comerciais, como lojas, consultórios e principalmente restaurantes e padarias, a ideia é que a plataforma online seja no futuro utilizada por distribuidoras e Empresas de Conservação de Energia (Escos), tornando-se uma importante ferramenta com informações dinâmicas sobre consumo de eletricidade.
"A ideia surgiu de uma conversa entre os fundadores, na qual discutiam sobre a distância que existe entre a geração de energia e o consumidor comum, que muitas vezes se mostra preocupado com assuntos relacionados à sustentabilidade, mas não percebe o real impacto do gasto de energia da sua rotina. Além disso, já vinha pesquisando em meu mestrado o embasamento para desenvolver o principal produto da GreenAnt, que é a inteligência artificial capaz de identificar a categoria dos equipamentos ligados à uma rede elétrica", disse Bittencourt, que está doutorando em processamento de Sinais e inteligência computacional.
Os outros sócios são Raphael Guimarães mestrado em engenharia mecânica e doutorando em planejamento energético. Caio Mehlem, engenheiro de controle e automação e mestre em automação eletrônica e sistemas embarcados pelo INSA Toulouse; Flavio Wuensche, mestre em engenharia pela Ecole Centrale de Nantes com ênfase em Web Strategy and Development; e Thiago Holzmeister, designer industrial com ênfase em design de produto. Confira a seguir a íntegra da entrevista:
Agência CanalEnergia – Qual é o conceito por trás da GreenAnt?
Pedro Bittencourt – Hoje em dia encaramos como normal a maneira como consumimos e pagamos pela energia, mas seria impensável se supermercados e restaurantes começassem a utilizar o mesmo sistema. Seria como fazer compras em um mercado sem nenhuma etiqueta de preço e no final teríamos que pagar a soma total, sem saber quanto custou cada item. Ligamos os aparelhos em nossos lares sem a plena consciência do impacto que eles causam na conta de luz e nos recursos naturais utilizados na geração da energia. A GreenAnt surgiu com a intenção de preencher uma lacuna que existe entre o fornecimento de energia e o consumidor final. Percebemos que um dos maiores problemas para o estabelecimento de práticas de uso eficiente de energia é a falta de informação. O conceito é unir a tecnologia de dispositivos conectados (Internet of things) com eficiência energética para atacar este problema fundamental que é a falta de informação. O que queremos entregar é uma ferramenta que dê informação de qualidade, em tempo real e desagregada para o consumidor de energia elétrica.
Agência CanalEnergia – Como surgiu a ideia?
Pedro Bittencourt – A ideia surgiu de uma conversa entre os fundadores Pedro Bittencourt e Raphael Guimarães, na qual discutiam sobre a distância que existe entre a geração de energia e o consumidor comum, que muitas vezes se mostra preocupado com assuntos relacionados à sustentabilidade, mas não percebe o real impacto do gasto de energia da sua rotina. Além disso, já vinha pesquisando em meu mestrado o embasamento para desenvolver o principal produto da GreenAnt, que é a inteligência artificial capaz de identificar a categoria dos equipamentos ligados à uma rede elétrica.
Agência CanalEnergia – Quem será o público alvo?
Pedro Bittencourt – Inicialmente nosso foco serão os pequenos e médios empreendimentos comerciais, lojas, consultórios e principalmente restaurantes e padarias que com os aumentos de tarifa viram um custo antes considerado "fixo" praticamente dobrar sem uma contrapartida em suas receitas. Focaremos nestes usuários inicialmente por existir um valor bem claro para eles e porque acreditamos que é necessário incorporar o consumo de energia na gestão e no dia a dia desses consumidores. Em uma segunda etapa, queremos levar nossa solução aos consumidores residenciais na forma serviços das próprias distribuidoras de energia aos seus clientes.
Agência CanalEnergia – Qual é o potencial dessa tecnologia?
Pedro Bittencourt – Com um ganho de escala, a tecnologia tem o potencial de se tornar uma ferramenta online essencial para gestão de energia pelo lado da demanda. Além disso, será possível utilizar os dados de consumo para uma série de aplicações como melhoria de ferramentas de combate à perdas não técnicas, medição e verificação de equipamentos e projetos de eficiência energética, pesquisas de hábitos de consumo, programas de redução de consumo em horário de ponta, entre outros.
Agência CanalEnergia – Qual é o estágio atual desse novo produto?
Pedro Bittencourt – Atualmente estamos fabricando os medidores para o projeto piloto, que conta com a participação de 110 usuários beta que foram nossos colaboradores da campanha de crowdfunding realizada na Benfeitoria (plataforma brasileira de crowdfunding). Esses primeiros usuários que acreditaram na ideia serão nosso grupo de controle para atualizações, novas ferramentas e eventuais modificações do sistema ou do serviço. A entrega será em dezembro deste ano e nosso planejamento é iniciar as operações comerciais em maior escala no segundo semestre de 2016. Temos também um objetivo de validação metodológica do algoritmo e da resposta dos consumidores via um projeto de P&D Aneel para dar credibilidade do sistema aos grandes players do mercado de energia e eventuais investidores.
Agência CanalEnergia – Pretendem tocar o projeto em parceria com alguma empresa?
Pedro Bittencourt – Queremos chegar ao lote piloto sozinhos e realizar as validações e crescimento em escala em parcerias. O primeiro passo para isso seria um projeto mais técnico de validação dos algoritmos e do serviço como ferramenta e depois seguir em parceria para atingir uma escala maior, que onde está o verdadeiro valor da plataforma. Vemos as distribuidoras como grandes parceiras.
Agência CanalEnergia – Quais são os benefícios dessa tecnologia?
Pedro Bittencourt – Do ponto de vista econômico para o cliente é a ferramenta definitiva para gestão energética, que se aplica também como uma excelente ferramenta para Escos realizarem a medição e verificação do desempenho de seus projeto, que hoje é um processo complexo e custoso. Fora isso, a escala traz benefícios econômicos para muitos outros mercados, desde o varejo e fabricação de eletrodomésticos, que poderão ter uma nova visão de eficiência e hábitos de consumo pelo lado do consumidor, às distribuidoras, que terão informações detalhadas de carga por área e granularidade temporal que pode ser usada, por exemplo, para otimização de seus contratos de compra de energia, simulação dos impactos na receita da tarifa branca, programas de redução de picos e preenchimento de vales e muitos outros desdobramentos que impactam diretamente na receita. Além disso, a plataforma online da GreenAnt pode ser customizada com todos os elementos da marca do distribuidor de energia, tornando-se assim, um canal extra de relacionamento com o cliente, que muitas vezes só se lembra da distribuidora quando tem em mãos a fatura enviada pelo correio.
Do ponto de vista do setor elétrico vemos a possibilidade de um grande avanço em eficiência de mercado, por exemplo com programas de redução de consumo em horário de pico, nos quais será possível enviar notificações aos clientes com maior potencial de economia, sugerindo que desliguem alguns equipamentos durante o pico em troca de créditos ou descontos em compras ou até mesmo na fatura. Dessa maneira, a GreenAnt funcionaria como uma geradora de “Negawatts”, o watt de potência negativa. Essa informação granular e em tempo real permite ainda o entendimento da dinâmica de consumo em baixa tensão através de análises nunca antes realizadas.
Agência CanalEnergia – Qual a importância de receber um prêmio?
Pedro Bittencourt – O reconhecimento de um grande grupo de energia é muito importante. Estimula a continuar nosso trabalho e nos indica que existe um real interesse deste mercado em soluções inovadoras, que entendem as novas demandas dos consumidores. Além disso, o prêmio pode dar a visibilidade e reconhecimento necessários para levarmos nossa iniciativa adiante, atingindo a escala que desejamos.