Os investidores termelétricos foram cautelosos nos dois primeiros leilões que contaram com a participação da fonte. Pouco se vendeu em energia firme nos leilões de fontes alternativas e do A-5, realizados no fim de abril. O LFA apenas viabilizou a expansão de oito usinas a biomassa existentes. Já o A-5 contratou energia de quatro empreendimentos térmicos, sendo três a biomassa e um a gás natural liquefeito – este de maior relevância em termos de capacidade. Essa fotografia reforça a percepção de que preço-teto é apenas um fator na hora de dar o lance.
Para Xisto Vieira Filho, presidente da Associação Brasileira das Geradoras Termelétricas, os agentes estão convivendo com uma série de riscos que comprometem uma oferta maior da fonte. Ele lista: penalizações causadas pelos despachos determinados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico; atrasos na transmissão; necessidade de comprovar disponibilidade de combustível por um longo período. Essas e outras questões estão impondo novos desafios aos investidores.
“A importância da fonte térmica em nossa matriz elétrica é muito grande, e tende a aumentar cada vez mais, tendo em vista do número crescente de fontes intermitentes, e de hidrelétricas sem reservatório”, destacou Vieira, que estará presente na próxima edição do Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico- Enase, a ser realizada nos dias 27 e 28 de maio, no Rio de Janeiro. Confira os principais trechos da entrevista com o executivo.
Agência CanalEnergia – Qual a importância da fonte termelétrica na matriz elétrica brasileira?
Xisto Vieira Filho – A importância da fonte térmica em nossa matriz elétrica é muito grande, e tende a aumentar cada vez mais, tendo em vista do número crescente de fontes intermitentes, e de hidrelétricas sem reservatório. Com efeito, em situações hidrológicas desfavoráveis, como a que temos vivido já há algum tempo, as usinas térmicas, permanentemente despachadas, têm livrado o nosso sistema de problemas mais sérios de confiabilidade e continuidade de suprimento. A Abraget vem sempre defendendo uma expansão equilibrada da nossa matriz elétrica, em que os atributos de cada tipo de fonte sejam reconhecidos e valorados adequadamente, e neste tipo de expansão caberá sempre um papel fundamental à geração térmica.
Agência CanalEnergia – Quais obstáculos precisam ser superados para que este seja um ano de sucesso para a fonte?
Xisto Vieira Filho – Esta pergunta é muito importante e nos dá a oportunidade de reforçar o que temos mencionado a respeito de algumas modalidades de penalizações e aspectos regulatórios: por exemplo, as penalizações que acompanham os afastamentos de despachos de geração determinados pelo Operador (ADOMP) são bastante severas, e, quando ocorrem situações de PLDs muito elevados, podem até se tornar impagáveis. E isto é um risco que sempre pode afugentar o investidor tradicional. Riscos de atrasos de transmissão, que agora são, pelo menos de certa forma alocados aos geradores também deveriam ser eliminados. E, muito importante, a necessidade do agente térmico ter que comprovar por 20 ou 25 anos a disponibilidade de combustível também limita muito a participação e a competição em leilões.
Agência CanalEnergia – Qual a perspectiva do mercado de gás no curto e no médio prazo?
Xisto Vieira Filho– A expansão de geração térmica através de gás natural é uma opção excelente. No entanto, temos que acelerar ao máximo os leilões de novos poços/empreendimentos de gás, que permitirão a opção de gás onshore. E, complementando tais oportunidades, é de fundamental importância prepararmos com urgência uma expansão das possibilidades de mais fornecimento de GNL,o que efetivamente, é a única alternativa a mais curto prazo. Não podemos também esquecer da necessidade de planejamento da expansão de gasodutos, que permitirão a colocação das novas fontes térmicas próximas dos centros de carga.
Agência CanalEnergia – Em entrevista recente, o senhor informou que a expansão do parque térmico passa pelo GNL. Explique esse ponto de vista.
Xisto Vieira Filho – Atualmente é muito rara a disponibilidade de gás onshore, cabendo, portanto, ao GNL a inclusão de fontes térmicas no curto prazo. É fundamental observar-se que a disponibilização do GNL não é somente o fornecimento e transporte do gás, mas também, e não menos importante, a logística necessária para a recepção deste GNL.
Agência CanalEnergia – A associação está negociando junto à Aneel uma flexibilização das penalidades para o 3º Leilão de Energia de Reserva, marcado para 15 de junho. Qual seria a proposta?
Xisto Vieira Filho – Veja bem, para este leilão de reserva, vemos desafios importantes, dentre os quais colocar projetos desta dimensão em operação até janeiro de 2015. Assim, eventuais atrasos em instalações poderão resultar em exposições consideráveis do agente, caso o PLD permaneça elevado. Por outro lado, um prazo desafiador destes para a construção e operação, também poderá trazer ao agente penalizações consideráveis, referentes ao afastamento de despachos (ADOMP), exatamente na chamada “curva da banheira” das citadas plantas. Então, é intenção da Abraget interagir com a Aneel, no sentido de verificar como atenuar tais problemas que poderão afetar os agentes candidatos.
Agência CanalEnergia – Há motivos para preocupação pelo fato das térmicas estarem operando permanentemente?
Xisto Vieira Filho – É outro ponto interessante. As térmicas são construídas para terem um fator de disponibilidade elevado. No entanto, quando ocorreram os leilões passados, levando em conta os parâmetros e fatores disponíveis à época de tais leilões, as unidades térmicas eram previstas para operarem 35% a 45% do tempo. No entanto, elas vêm operando na base o tempo todo, já há muito tempo. Evidentemente, esta modalidade de operação faz com que aumente consideravelmente o real requisito de manutenção das unidades geradoras. E aí, vem a penalização: não operou dentro da manutenção prevista à época do leilão, fica exposto a PLD e ainda tem que “devolver” garantia física. Por isto fica difícil, pois realmente uma situação destas leva o agente a grandes dificuldades.