O leilão de energia de reserva que ocorrerá em 15 de junho ainda é visto com ressalvas por agentes do setor. Entre os motivos estão a pouca disponibilidade de gás natural que existe no país e o baixo volume de energia cadastrada e que ainda precisará ser habilitada pela EPE. A perspectiva na maior parte dos casos é de pouca ou nenhuma concorrência, o que deverá levar o preço da energia ofertada a um nível muito próximo do preço inicial do certame.
Outra incógnita que existe é onde está essa potência cadastrada para o leilão. Pois com o exíguo prazo para a instalação e início de operação é necessário que o projeto esteja pronto ou bem próximo de conclusão. Com isso, as perspectivas mais plausíveis que se abrem nesse horizonte são três: esse leilão poderá viabilizar o fechamento de ciclo de térmicas que já estão em operação, a segunda opção é a perspectiva de ampliação de usinas que já estão em operação e que dispõem do combustível, ou ainda, de UTEs com máquinas já prontas ou que podem receber máquinas que já vêm prontas para a operação. O valor de R$ 581/MWh é visto como um patamar de preços adequado para a remuneração do gerador, contudo com o volume de projetos que podem entrar na disputa não se deve ter uma competição grande entre as geradoras.
“Mesmo para fechamento de ciclo não existe muito espaço”, disse a diretora da Thymos Energia, Thaís Prandini. “Não devemos ver muita competitividade e se tiver, será um ou dois contratos e o preço próximo ao valor inicial”, avaliou. Apesar disso, ela elogiou esse certame que tem um princípio que classificou como muito bom, por ser regional e que atenderá a ponta de demanda. Para ela, esse deverá ser o primeiro de outros leilões de geração de ponta. Isso porque à medida que a capacidade instalada avança com UHEs sem reservatórios é cada vez mais importante termos leilões regionais como o que ocorrerá em 15 de junho.
O presidente da Abiape, Mário Menel, reforçou a perspectiva de que não se espera uma disputa grande no certame. E, disse ele, não poderia ser diferente em função das restrições de potência, prazo de instalação e local de conexão. Para ele, é mais provável que essa energia nova possa vir de máquinas que estão prontas e não possuem contratos, ou ainda, os empreendedores poderiam recorrer a uma solução já vista por aqui, que é a de barcaças com UTEs instaladas para suprir essa demanda, principalmente em locais com acesso a gasodutos ou terminais de regaseificação de GNL.
“Quanto a mérito de ter essa energia de reserva para atender a ponta é acertada essa decisão apesar do preço, que elevará nossa tarifa a um patamar cada vez mais diferenciado. Bom, pelo menos não serão usinas a óleo como aquelas contratadas em 2008”, comentou.
Mas ainda há questões que levantam dúvidas sobre as possibilidades desse leilão. Segundo Leontina Pinto, da consultoria Engenho, não se esperava um grande sucesso justamente pelas condições que se mostram ao mercado, principalmente pelo combustível e sua incerteza quanto ao preço. “É um grande fator de risco”, resumiu a executiva dizendo que essa condição se faz presente até mesmo para o GNL que viabilizou três térmicas nos dois últimos leilões A-5.
Leontina também vê a possibilidade de que esse certame possa se encaminhar para a adoção de fechamento de ciclo de térmicas já existentes e a outra perspectiva é da chegada de máquinas paradas que estão disponíveis tanto no Brasil quanto no mundo para que possam entrar em operação no prazo do LER que é de um semestre apenas, levando usinas já existentes a serem ampliadas. Entre empresas citadas como possíveis concorrentes no certame estão Eneva, Petrobras e, como fornecedora de gás, a Cemig.
O presidente executivo da Cogen, Newton Duarte, lembrou que se a portaria desse leilão não tivesse limitado a potência dos projetos poderíamos ter muito mais concorrência. No fórum, que a entidade promoveu no início de maio, a associação estimou em cerca de 300 MW a potência adicional somente no estado de São Paulo que poderia participar do certame. Contudo, a limitação de projeto imposta impediu a entrada dessa capacidade.
Sobre a incerteza de se encontrar o insumo no mercado internacional, o diretor do segmento de comercialização de gás da Ecom Energia, Percival Amaral, disse que há disponibilidade desse combustível. E que no médio e longo prazo é possível maior acesso em função, basicamente, da liquefação de shale gas nos Estados Unidos. “Hoje eles estão sinalizando que vão tomar medidas para exportar o insumo e que pode ser de volume relevante para o mercado internacional”, estimou o executivo.