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A capacidade de regularização do sistema elétrico brasileiro, a partir dos grandes reservatórios, está seriamente comprometida com a crescente escassez de novos projetos hidrelétricos de maior porte. O alerta foi feito pelo diretor de Planejamento e Programação da Operação do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Francisco José Arteiro de Oliveira, ao participar da mesa-redonda “As Questões Climáticas e os Impactos nos Negócios de Energia”, promovida pela FGV Energia nesta quarta-feira, 19 de abril, no Rio de Janeiro.
Segundo o dirigente, mesmo a inserção cada vez maior de outras fontes que podem responder às necessidades de base do sistema elétrico, como termelétricas convencionais e possivelmente nucleares, não trariam essa capacidade de regularização do sistema. É essa capacidade que, em última instância, acaba garantindo a estabilidade no fornecimento para o mercado. O diretor fez críticas ao que chama de “enxurrada” de projetos de geração eólica e solar no país sem o investimento paralelo em fontes que suportem a geração de base do sistema.
“O futuro não passa apenas por eólica e solar, embora o ambiente hoje leve a crer que sim. O sistema elétrico de potência tem que ter, necessariamente, máquinas rotativas que resultem em energia girante. É a hidreletricidade que entrega isso”, afirmou Arteiro, questionando o abandono das discussões em torno do melhor aproveitamento do potencial hidrelétrico brasileiro, inclusive na região Sudeste. Ele abordou ainda a falta de competitividade de fontes como o gás natural, cujo custo variável, alto, impede a operação de plantas como Araucária e Uruguaiana.
Também na mesa-redonda, o professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, José Roberto Moreira, apontou a geração hídrica como a melhor alternativa de sustentação para o sistema elétrico do Brasil nos próximos 30 anos, sendo a solução mais econômica e a que melhor se complementa com a inserção cada vez maior de usinas eólicas e solares. Especialista na área de bioeletricidade, Moreira considera a biomassa da cana-de-açúcar a alternativa mais viável ao fim do aproveitamento hidrelétrico, tanto do ponto de vista econômico quanto do energético.
“Eólica e solar são fontes intermitentes, e o sistema precisa de lastro quando há uma grande quantidade delas em operação. Eu entendo que a biomassa da cana pode servir de base quando o potencial hidrelétrico estiver esgotado. Até porque as usinas já trabalham hoje com estoque de biomassa para operação nos períodos de entressafra”, defende, apontando ainda a vantagem do uso paralelo na área de biocombustíveis com o etanol. Apesar das dificuldades de entrada no mercado, Moreira enxerga boas perspectivas para o crescimento da biomassa no setor elétrico.
Na avaliação do superintendente de Ensino e P&D da FGV Energia, Felipe Gonçalves, a abertura do mercado para fontes alternativas complementares como eólica e solar nos últimos anos já permite ao Brasil a atender, em boa parte, às metas de contribuição nacionalmente determinada (iNDC, na sigla em inglês) apresentadas na 21ª Conferência das Partes (COP-21), em 2015. Segundo ele, a modelagem da expansão precisa de ajustes, ao não englobar o custo global dessas fontes – caso da transmissão para muitas das usinas eólicas da região Nordeste.