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A estreia de players do setor elétrico nos últimos leilões de transmissão pode indicar a falta de perspectivas para novos projetos de geração. Se por um lado ainda não há data para um leilão de reserva em 2017, no outro a transmissão aparece como um investimento atrativo após as mudanças em prazos e receitas que foram efetuadas desde o ano passado. Empresas como Equatorial Energia, EDP, Elektro, Celesc, Energisa e Engie participaram do certame realizado nesta segunda-feira, 24 de abril, “Estamos com sobrecontratação e o leilão de reserva deve ter intensa disputa em um espaço pequeno. As empresas estão virando a chave e apostando aonde existe espaço para crescer”, explica Thais Prandini, diretora da Thymos Energia.

Para ela, as mudanças efetuadas se traduziram na vontade dos investidores. As RAPs mais atrativas resultaram em vários interessados nos lotes com intensa disputa. “Aquele preço teto superbaixo afastava o investidor”, revela. O aumento do preço acabou por trazer um deságio definido pelo mercado. Ela esperava deságios acima de dois dígitos, mas alguns foram bem mais elevados que os prognósticos. “Alguns empreendimentos com deságios altos tiveram problemas para ir adiante, mas não foram todos”, observa.

A entrada de novos players também surpreendeu. A indiana Sterlite Power Grid Ventures levou os lotes 10 e 15, localizado em Pernambuco. A performance da empresa no Brasil gera expectativa no setor, uma vez que no lote 10 o deságio chegou a mais de 50%. “Tem que ter muita cautela para ver o desenho deles”, avisa. Quem também cria expectativa são os estreantes que não são do setor. Empresas de engenharia e até distribuidoras de bebidas vão implantar LTs. Segundo a diretora da Thymos, a atratividade dos lotes e os riscos pequenos na transmissão acabou trazendo esses novos investidores, o que não é comum na geração.

Para o coordenador do Grupo de Estudo do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Nivalde de Castro, o leilão foi um sucesso total. Segundo Castro, o modelo de contratação conseguiu atingir a maturidade sem necessitar da presença das subsidiárias do Grupo Eletrobras como âncoras nos consórcios. A entrada de players como a EDP, Elektro e Energisa reflete o ápice dessa maturidade. “É uma vitória da política pública, que vem sendo aprimorada em função da qualidade do corpo técnico do setor elétrico, de uma agência reguladora que trabalha com independência e de um ministério que tem na secretaria-executiva uma pessoa que conhece muito do setor”, revela.

O professor também ressaltou que as novas condições apresentadas de aumento do prazo, lotes menores e prorrogações de contrato levaram ao bom resultado. Na opinião dele, a entrada de indianos no setor é um sinal que o setor se mostra atrativo, após a onda que já trouxe espanhóis, chineses para a transmissão.

O aparecimento de empresas tradicionais no setor, mas não na atividade de transmissão, é visto como uma comprovação do caminho acertado no estabelecimento de regras por parte do governo federal, na avaliação do presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales. Entre elas, ele cita EDP, Energisa, Elektro e Equatorial, que já atuou no leilão do ano passado. Ele destaca particularmente o retorno da Cteep, vencedores de cinco lotes e que voltou a participar das licitações no seu core business após alguns anos.

“O resultado positivo, tanto pelo grande deságio de 36,5% quanto pela RAP total de R$ 1,67 bilhão, mostra que não pode haver barreiras de entrada para competidores. Depois de anos, o governo cria leilões atraentes para o investimento”, analisa Sales, que cita também a entrada do grupo indiano Sterlite Power Grid como uma das boas notícias trazidas com a leilão de hoje. Debutante no Brasil, a empresa arrematou o lote 10 com o maior deságio do dia, de 58,86%, e o lote 15, com uma queda 25,87% na RAP inicial.

O presidente da Acende Brasil observa que o setor de transmissão ainda representa um gargalo para setor elétrico, em razão do forte atraso na construção de conexões já contratadas, mas que ainda não podem escoar a produção de empreendimentos de geração já em operação – caso da hidrelétrica de Belo Monte. Apesar disso, segundo Sales, os resultados positivos dos últimos dois leilões comprovam o retorno da atratividade de projetos de transmissão, garantindo a viabilização de linhas importantes.