Entidades situadas em Minas Gerais se mostram preocupadas com os efeitos do leilão de outorga das usinas da Cemig para a economia do estado e os consumidores locais. A preocupação se dá em torno, principalmente, da possibilidade de entrada de controladores sem qualquer relação com a atividade industrial e comercial da região, o que poderia impactar a geração de novos negócios para a cadeia de fornecimento e prestação de serviço. A intenção do governo federal é licitar São Simão (1.710 MW), Jaguara (424 MW), Miranda (408 MW) e Volta Grande (380 MW) até 30 de setembro.
Alegando "insegurança jurídica" com o imbróglio na Justiça envolvendo os Executivos estadual e federal em torno da concessão das hidrelétricas, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Olavo Machado Junior, acredita que o impacto nos negócios da Cemig – principal empresa do estado – com uma possível perda dos quatro empreendimentos será considerável. Com a derrubada das liminares obtidas pela estatal, que impediam a realização do leilão pelo governo federal, o executivo diz esperar por uma solução consensada, sem prejuízos para as partes.
"A nossa expectativa é que a Justiça não exponha a empresa a um baque como esse. A Cemig viabilizou a construção e sempre operou esses projetos, há todo um conhecimento técnico agregado aí e que não deveria ser desprezado", defende Machado Junior. Segundo ele, o posicionamento das indústrias do estado é praticamente unânime no sentido de apoiar o que entendem ser um direito da Cemig. A possibilidade de um acordo visando a prorrogação dos contratos de concessão das usinas é defendida em outras frentes.
Presidente do Conselho de Energia da Associação Comercial e Empresarial de Minas, o engenheiro Ailton Ricaldoni Lobo defende um consenso entre ambos os lados, possibilitando a preservação dos interesses da Cemig e o ressarcimento da União em um cenário de renovação das concessões. "Legalmente, o governo tem o direito de promover uma nova licitação, se quiser, mas tirar um grupo de ativos de uma empresa em uma tacada só, após anos de operação, é temerário. Negociar uma extensão desses contratos com compensação seria o mais justo", pontua Lobo.
Igualmente apreensivo com a licitação de outorga das hidrelétricas se mostra o presidente do Conselho de Consumidores da Cemig, Jose Luiz Nobre Ribeiro, para quem a licitação das concessões poderá pôr em risco a qualidade do serviço para os clientes de energia elétrica do estado. "Tanto para o estado quanto para os consumidores, é bom ter uma concessionária forte, com situação financeira saudável e implementando melhorias no fornecimento para a população", avalia Ribeiro, que acredita na possibilidade de uma saída negocial mantendo os interesses da Cemig e do governo federal.