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Em meados de 2016 a chinesa State Grid surpreendeu todo o setor elétrico com a revelação de que havia feito uma proposta de compra firme pela parcela da Camargo Corrêa na CPFL Energia. Esse movimento seria completado com a aquisição de todo o bloco controlador da empresa e consequente lançamento de oferta pública que está no mercado. A transação total está estimada em algo próximo a R$ 25 bilhões. Em outra frente, a China Three Gorges (CTG) arrematou as usinas da Cesp que foram relicitadas ao valor de outorga de R$ 13,8 bilhões e os ativos da Duke Energy por US$ 1,2 bilhão, entre outros aportes que elevou a companhia ao posto de maior geradora privada de energia, perdendo apenas para a Eletrobras.

“Aqui no Brasil, todo mundo já ouviu falar da State Grid e CTG, mas tem outras seis ou sete empresas que estão querendo entrar no país”, revela Charles Tang, presidente binacional da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China (CCIBC). “Temos as duas maiores geradoras chinesas, a China Huaneng e a China Huadian que têm o interesse de entrar no Brasil”, acrescenta.
Segundo ele, o presidente dessa segunda companhia já esteve no Brasil para avaliar usinas termelétricas e até mesmo hidrelétricas, mas sem revelar quais ativos seriam esses. E apontou ainda que a terceira, quarta e quinta maiores geradoras chineses teriam um suposto interesse no Brasil. Inclusive, disse, os valores previstos até o momento não incluem Angra 3 e os aportes em um futuro programa de expansão de usinas termonucleares por aqui.
O executivo, que atua na viabilização de aportes chineses no Brasil, afirma que a onda de recursos de seu país de origem para o lado de cá do mundo ainda não parou. Ele estima que ainda há espaço para que algo entre US$ 30 a US$ 40 bilhões possam chegar ao setor elétrico nacional por meio de aquisições de projetos já operacionais ou greenfield, mas que já tenham o PPA garantido por meio de leilões.
Essa estimativa toma como base a perspectiva de que a China deverá aportar algo como US$ 500 bilhões na América do Sul nos próximos 10 anos, isso em diversas áreas de negócios, sendo que o Brasil pode ser o destino de um terço desses recursos. Essa atração é o resultado de uma combinação entre os ativos serem considerados baratos por aqui e a necessidade das empresas venderem esses empreendimentos por conta da crise econômica associada à Operação Lava Jato, que afetou as principais empresas do ramo de infraestrutura no país.
“O Brasil é um país muito grande com vários projetos parados e ativos mais baratos por conta da crise”, comenta Tang. “Antes da Lava Jato nenhum estrangeiro tinha muita chance em entrar no setor de infraestrutura por aqui, pois era controlado pelas empresas hoje envolvidas. Agora como essas deixaram de ser as proprietárias do segmento, diversos estrangeiros, inclusive os chineses, viram espaço para a entrada, mas a China é que reúne a disponibilidade financeira e a disposição de investimento mesmo com o risco Brasil”, apontou ele.
Entre os espaços que ainda não possuem uma empresa chinesa no Brasil está o de fabricação de aerogeradores, mas essa situação, segundo Tang, deverá mudar em breve. Enigmático, ele respondeu ao questionamento da Agência CanalEnergia com um “mas vai ter”, sem detalhar o caso ou qual empresa estaria para chegar ao país. Ele disse que este segmento é um dos que apresentam grande oportunidade para a China, até mesmo no curto prazo.
Outro segmento interessante, disse ele, continua a ser em transmissão de energia. Ele lembra que a CCIBC trabalha para viabilizar o negócio de mais de R$ 3 bilhões entre a Shanghai Electric e a Eletrosul para que a empresa oriental fique com empreendimentos de transmissão da subsidiária da Eletrobras. E ainda, um negócio entre a SPIC que adquiriu a Pacific Hydro, com mais de 50 MW em eólicas no país. “Esse ano teremos novos aportes chineses no Brasil, estamos trabalhando por isso”, conclui ele sem dar pistas sobre os próximos passos das empresas que chegarão ao país em 2017.