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O governo do estado de Pernambuco deu início ao Programa Noronha Carbono Zero, onde a meta é a de estabelecer uma economia de baixo carbono na ilha, região escolhida para ser o laboratório de soluções que serão implantadas pela iniciativa privada e com o apoio do governo local. Segundo o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, Sergio Xavier, a ideia é usar a térmica local apenas como backup ao incentivar a fonte solar associada ao armazenamento, bem como, estudar possibilidade da maremotriz e eólica por meio de aerogeradores de menor porte.

O secretário descreve que grandes empresas estão interessadas no projeto. E que, em breve, o governo do estado deverá receber um relatório com as indicações do que é necessário em termos de políticas públicas para que o setor privado possa se interessar em investir. Confira abaixo os principais trechos da entrevista concedida à Agência CanalEnergia:
Agência CanalEnergia : Como se deu inicio do programa em Fernando de Noronha?
Sérgio Xavier: Pernambuco tem diversas vulnerabilidades ambientais com essa questão do aquecimento global. Estamos preocupados com esse fator. Teremos mais seca e menos água no sertão, o nível do mar aumentando e chuvas mais intensas na zona da mata. Isso nos levou a pensar como ter uma economia de baixo carbono. Começamos com o programa Pernambuco no Clima e como era difícil implantar um projeto de larga escala, escolhemos Fernando de Noronha para ser nosso laboratório. E o que percebemos, que a maioria das emissões de lá são dos aviões. Descobrimos que poderíamos fazer bioquerosene já que existe uma refinaria próximo ao porto de Suape. Além disso, há um porto próximo, o que nos dá as condições logísticas. Há empresas estudando essa oportunidade de investimentos.
Outro eixo é o de reduzir o transporte de óleo diesel na ilha e a geração térmica. Atualmente, há duas usinas solares por lá e nós conseguimos suprir 12% da demanda. Ainda é pouco, mas ainda temos outro objetivo que é de trocar os carros convencionais por elétricos, aumentar a geração solar e combinar com armazenamento, são diversas ações e isso somente no eixo da energia apenas.
Agência CanalEnergia : Como é formada a matriz elétrica da ilha de Fernando de Noronha atualmente?
Sérgio Xavier: Atualmente temos apenas as duas usinas solares que atende a cerca de 12%, mas isso é variável, e o resto é térmica a óleo. Esse combustível está um pouco menos poluidor por algumas misturas, mas ainda é óleo diesel. E nesse programa de substituição avaliamos não somente a eólica, mas a energia das marés que pode ser instalada sem impacto visual que a eólica tem. Estudamos aerogeadores sim, mas menores, uma combinação de fontes para esse desafio de zerar as emissões. Há um grande programa de micro GD onde pensamos em todas as casas produzindo a sua energia e alimentando os carros elétricos. A Celpe já instalou um smart grid por lá que proporciona uma gestão da energia de forma mais eficiente e isso melhorou a segurança do sistema de Noronha. Um próximo passo é o de termos um sistema de armazenamento em baterias com a Celpe.
Agência CanalEnergia : Já mapearam qual é o potencial de geração solar na ilha?
Sérgio Xavier: A potencialidade é grande se tiver armazenamento. Quando tivermos as casas com micro GD solar, armazenamento e eficiência energética podem ser autossuficientes. Nosso objetivo é de que a térmica exista apenas como backup porque já está lá, mas a ideia é de que não necessitemos dela. Há outras soluções como placas solares flexíveis e outras tecnologias que nos colocam mais no caminho das renováveis .
Agência CanalEnergia : As empresas já se comprometeram com os investimentos a serem feitos? Como funcionará?
Sérgio Xavier: Tivemos um encontro com empresas da Califórnia em Pernambuco em um evento internacional que reuniu companhias grandes como Tesla, Solar City, GM e outras. Esteve presente ainda o comissário de energia daquele estado. No workshop foram apresentadas oportunidades de investimentos. E, como esses eventos são aberto, as empresas não falam diretamente de seus interesses. Já tivemos o investimento da Celpe de R$ 22 milhões para o sistema de armazenamento, a Baterias Moura que deverá ter uma fábrica de baterias de lítio em nosso estado e isso fortalece o mercado e temos bastante empresas de tecnologia por lá. Mas estamos aguardando um relatório que virá da Califórnia com as recomendações de políticas públicas, indicações de financiamento e tecnologia para aí sim definir as políticas que deverão ser tomadas no âmbito estadual no que compete a nós e repassaremos o que for de âmbito federal para o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do MME, Eduardo Azevedo, que esteve presente.
Agência CanalEnergia : Desde esse evento, já houve avanços nessa relação entre as empresas e o governo do estado?
Sérgio Xavier: A ideia do governo com o evento foi a de fazer a provocação. Nos antecipamos ao mercado para pensar em políticas disruptivas para incentivar a economia de baixo carbono. Criamos um comitê com 13 órgãos públicos pra formular esses conceitos e provocar as empresas que estão planejando como fazer esses investimentos. A ideia é que as soluções sejam privadas, o mercado e as empresas façam acontecer esse projeto. Nesse sentido, temos várias políticas para quem se instalar no estado com incentivos fiscais. No interior, por exemplo, o percentual é bem alto. Mas nesse evento as empresas apresentaram quais seriam os requisitos que acham necessários que o estado deveria oferecer para o investidor chegar. Estamos aguardando a sistematização dessa lista e depois vamos responder e ver o que compete a nós e ao governo federal, e aí adotar aquilo que foi indicado como sendo o necessário. As empresas estão otimistas, querem investir. O governo fará o possível para destravar os pontos que serão apresentados para criar incentivos para a economia de baixo carbono.
Agência CanalEnergia : Qual é a ideia de parceria, o governo investiria como sócio, uma PPP?
Sérgio Xavier: Não teria investimento público, é a iniciativa privada desenvolvendo o mercado e o governo fazendo o papel de governo ao implantar as políticas para criar um mercado estável e seguro para os investimentos. Políticas essas transparentes e que envolvam a sociedade, as empresas e a academia. Nesse sentido fizemos o evento internacional para discutir a formulação desses caminhos. Com isso, cumprimos o nosso papel de destravar os gargalos e incentivar o investimento no estado e o poder público pode participar mas com aportes em infraestrutura que é do estado onde necessário. Como em educação, estamos construindo 10 escolas técnicas e hoje já temos 36 escolas que são importantes para formar pessoal para trabalhar nos projetos e empresas que queremos atrair. Pois dessa forma empregamos a população local. Do que adianta atrair empresas onde se emprega gente de fora? Por isso que repito, é o governo no papel de governo e empresa no papel de empresa.
Agência CanalEnergia : Quais ações ou metas estão previstas nesses incentivos?
Sérgio Xavier: É de maneira objetiva, como se fez na Califórnia, definir as políticas, ter metas para carros elétricos e energia renovável, por exemplo. Assim o mercado sabe qual o caminho e então investe. Visitei projetos no estado norte-americano e vi os investimentos que foram executados. Sabendo o caminho o mercado faz os investimentos. O que estamos fazendo aqui é criar as condições para que o mercado invista com segurança para que as empresas saibam que existe um plano. E esse plano está vinculado com questões ambientais. Já existem metas no nosso programa, mas diria que são simbólicas, por isso queremos contar com o setor privado, consumidor, a academia comprometidos para termos esses objetivos mais precisos e com o envolvimento de toda a sociedade é isso que estamos buscando achamos que esse arranjo ajudará nesse sentido.
Agência CanalEnergia : O que pensa sobre o risco de um futuro governo mudar essas políticas?
Sérgio Xavier: Sabemos que Pernambuco precisa desenvolver sua indústria no interior e a indústria solar é uma das poucas que não precisa de água. Se sabemos disso e a sociedade investe, a população local vai abraçar o processo, então, dificilmente alguém vai mudar isso no futuro. O risco de mudança de políticas públicas existe sim. Contudo, não é exclusivo nosso, mas quando tem o envolvimento da sociedade, academia e empresas participando, o governo não terá força para ir contra isso. Vi de perto a realidade dos Estados Unidos e o presidente deles, o Donald Trump, ele não vai reverter as políticas implantadas pelo Obama. Acho que não vai acontecer essa mudança de rumo de volta aos combustíveis fósseis. Não tem lei que seja mais forte que a vida real, não existe, ainda mais na contramão da vida real que vê as renováveis como o futuro. Há um apelo muito grande por lá que é a questão de geração de empregos. A indústria do carvão emprega menos da metade do setor de energia solar nos EUA. Hoje, mais de 350 mil pessoas trabalham em renováveis e o de carvão é cerca de 120 mil ou algo nesse patamar. E outra coisa, o preço de todas as energias renováveis estão caindo já o carvão segue o sentido contrário.
Agência CanalEnergia : Voltando ao Brasil, como esse piloto em Fernando de Noronha pode ser usado para todo o estado que apresenta diferentes regiões e realidades?
Sérgio Xavier: Escolhemos três laboratórios, a ilha de Fernando de Noronha, a ilha do Recife antigo e a cidade de Floresta, no sertão, que vive a seca e o potencial da energia solar. A ideia é de nesses lugares testarmos esses diferentes modelos de negócios e ter várias empresas interligadas para trabalhar em larga escala. E o resultado desse trabalho não tem fronteira, como há parcerias esses projetos podem ir para outros lugares do mundo.
(Nota da Redação: matéria atualizada às 16:40 horas do dia 05 de maio de 2017 para correção da localização da refinaria de biodiesel a pedido do entrevistado)