Depositando boas expectativas no que o programa Gás para Crescer pode trazer ao setor, a Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas vê um 2017 de busca de ajustes da fonte para o sistema. Questionando o conceito de sobreoferta que está sendo aplicado ao setor elétrico, Xisto Vieira, presidente da Abraget, garante que a térmica na base é viável e vê que as usinas movidas a cavaco de madeira podem se transformar em uma surpresa no SIN. “A Abraget vem preparando estudos no sentido de promover o aumento deste tipo de fonte na matriz elétrica”, avisa.
Vieira é um dos palestrantes do 14º Encontro Nacional dos Agentes do Setor Elétrico (Enase), que acontece nos dias 17 e 18 de maio no Centro de Convenções Sul América, no Rio de Janerio. O evento é organizado pelo Grupo CanalEnergia em parceria com 20 associações do setor. Veja a entrevista do executivo à Agência CanalEnergia:
Agência CanalEnergia: Qual o panorama da geração termelétrica para o ano de 2017?
Xisto Vieira: No ano de 2017, os agentes térmicos têm priorizado algumas ações de grande relevância: acertar com ONS e Aneel problemas que ocorrem, em geral, na operação real do sistema, tais como atendimento a intermitências de curto prazo, viabilização de CVUs mais adequados para operações atípicas de curto prazo, dentre outras; preparação de UTEs para novos leilões de energia, vis-à-vis as funções diferentes que as mesmas podem ter, tais como segurança energética ou serviços ancilares de diversas formas; apoio total ao programa Gás para Crescer, em vista de sua importância para o setor energético; diversos trabalhos no sentido de viabilizar a consideração de que, o que era chamado de “energia velha”, as UTEs descontratadas possam ter o mesmo tratamento do que se chama de “energia nova“ em leilões, desde que as condições de suprimento sejam similares.
Agência CanalEnergia: Como o Gás para crescer pode ajudar no desenvolvimento de térmicas a gás no país?
Xisto Vieira: Como mencionado, tal programa tem sido extremamente interessante para o desenvolvimento de geração térmica a gás, e para o crescimento do mercado de gás no país. Diversos tópicos foram exaustivamente debatidos, muitos deles aprovados, e a Abraget participou de todos os Subcomitês estabelecidos, em particular aquele que abordou as questões das interações necessárias entre os setores de gás e o elétrico. É importante destacar a atuação coordenadora do Ministério, sempre de forma equilibrada e debatendo com todos os agentes.
Agência CanalEnergia: A sobreoferta de energia não tira o ímpeto de investimentos para UTEs, uma vez que são projetos maiores e que demandam altos investimentos?
Xisto Vieira: Primeiramente, o conceito de “sobreoferta“ não se aplica exatamente no caso do setor elétrico, pois a oferta é constituída por garantias físicas de diversas fontes, algumas delas não conseguindo atender tais valores quando falta o “combustível“, como chuva, por exemplo. Isto explica o curioso fato de vermos várias declarações na imprensa de que temos sobre oferta, mas o regime é de bandeira vermelha agora em maio. Em segundo lugar, o Ministério acabou de publicar uma portaria reduzindo em cerca de 1.300 MW med a garantia física do sistema. Talvez se tenha que reduzir até um pouco mais, para tentar melhor espelhar a realidade dos fatos.
Agência CanalEnergia: A ideia de inserção de térmicas na base para poupar os reservatórios está sendo debatida de alguma forma?
Xisto Vieira: Sim, este conceito é absolutamente fundamental de ser entendido: quando não se tem hidros com reservatórios, a solução ótima é “térmica de base“. A Abraget vem desenvolvendo diversos estudos, no sentido de mostrar a adequacidade deste atributo para um certo montante de geração térmica, e em submercados específicos. Os leilões de energia elétrica não foram desenvolvidos para a obtenção de tal produto, e a Abraget está terminando um estudo que indica tais requisitos.
Agência CanalEnergia: O GNL continua sendo a única forma de viabilização das térmicas ou as térmicas abastecidas na “boca do poço” ou por gasodutos tradicionais ainda podem aparecer?
Xisto Vieira: No curto/médio prazo, o GNL é a forma de suprimento existente. Mas não temos dúvidas de que novas oportunidades aparecerão, tão logo sejam realizados mais leilões de novos campos a serem explorados, e dessa forma, colocar mais UTEs a gás onshore. Deve-se também destacar, por oportuno, o crescente papel que as UTEs a cavaco de madeira vêm desempenhando e acreditamos bastante que este será outro importante vetor de crescimento da geração térmica no SIN. A Abraget vem preparando estudos no sentido de promover o aumento deste tipo de fonte na matriz elétrica.