A hecatombe que se abateu sobre o cenário político brasileiro na noite da última quarta-feira (17), com a revelação de que áudios gravados comprometem diretamente o presidente Michel Temer em esquema de corrupção, não pode implicar numa interrupção dos trabalhos tocados atualmente pelo ministério de Minas e Energia, capitaneadas pelo ministro Fernando Bezerra Coelho Filho e pela competente equipe técnica que ele conseguiu formar. A avaliação vem de representantes e líderes de associações da área.

De acordo com o presidente do Fórum das Associações do Setor Elétrico, Mário Menel, a instabilidade política é o que se viu durante todo o segundo dia do maior evento da área, o Enase 2017. Pela manhã, quando ainda não se tinha ouvido a posição do presidente da República de que ele não renunciaria ao cargo, diversas incertezas pairavam no Encontro – diferentemente do clima de confiança que o ministro Coelho Filho havia deixado após seu pronunciamento no primeiro dia do evento, quando recebeu inclusive uma placa comemorativa pelo seu primeiro ano à frente do MME, destacando sua grande capacidade de diálogo com o mercado e liderança sobre a equipe técnica extraordinária que formou. A placa foi entregue pelo Grupo CanalEnergia e pelo FASE (Fórum de Associações do Setor Elétrico).

“Precisamos pensar no longo prazo. O setor deve ser moldado para 30 anos e não para um governo apenas”, comentou Menel. “A demanda de alterações é do mercado e o pessoal técnico que está à frente das negociações nos dão as condições mais propícias à mudança. Temos, por exemplo, o secretário-executivo [Paulo] Pedrosa, de conhecimento extraordinário; e o [Luiz] Barroso na EPE, que é reconhecidamente um dos melhores técnicos que o país possui”, declarou ele.

O presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia, Reginaldo Medeiros, diz que avalia com apreensão a possibilidade de descontinuidade das reformas gestadas para a área de eletricidade, mas ao mesmo tempo acha difícil que, neste momento, se abra mão da equipe que comanda as ações no setor. “É um grupo de técnicos competentes e comprometidos com as mudanças que são necessárias. O setor dá apoio às ideias que estão sendo levadas à diante”, defende.

Na avaliação de Cristiano Abijaode, vice-presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia, o setor precisa se unir para resolver os vários problemas que o cercam. “Não sabemos o que pode acontecer, mas devemos manter uma ideia central para um eventual próximo governo, porque a demanda é urgente”, acrescentou. Ele voltou a elogiar a área técnica do governo, cuja principal característica é uma capacidade “como nunca se viu no setor elétrico”.

O presidente executivo da Associação da Indústria de Cogeração de Energia, Newton Duarte, corrobora a necessidade de as entidades agirem no sentido de reforçar as ações ora em desenvolvimento. Ele adota uma posição mais ponderada e destaca que as dúvidas precisam ser dirimidas. Para o executivo, “o momento é o de manter a calma, no sentido de que todas as entidades possam funcionar, até porque, o time do MME é de primeiro nível”.

Duarte lembrou que a cúpula do setor elétrico é e sempre foi muito elogiada desde muito tempo, antes mesmo de chegarem às posições ocupadas atualmente, e que esse time é responsável pela concepção das alterações regulatórias em fase de montagem. “É torcer para que se dê continuidade no processo de mudanças do setor”, acrescentou. “Há gente capaz e que, independentemente do que vier a ocorrer, precisa continuar trabalhando no sentido de melhorar o segmento”, finalizou.