Nesta época do ano em que os ventos são mais intensos, é comum e parte da cultura em muitas regiões do país soltar pipas ao céu. Contudo, essa singela diversão pode acarretar em graves ocorrências no sistema elétrico de uma cidade, principalmente a interrupção de energia. Este ano, na área de concessão da Cemig, a brincadeira já foi responsável por 663 ocorrências de interrupção no fornecimento de energia elétrica, que prejudicaram cerca de 240 mil consumidores em MG, conforme levantamento da empresa.

Somente nos quatros primeiros meses deste ano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), foram registrados 265 desligamentos provocados por pipas na rede elétrica. O uso do cerol – mistura cortante feita com cola, vidro e restos de materiais condutores – é um dos principais causadores dos desligamentos, causando o rompimento dos cabos de energia quando entra em contato com a rede elétrica. Além disso, muitos curtos circuitos são provocados pela tentativa de retirada de papagaios presos aos cabos.

Especialistas aconselham que a prática de soltar pipa seja acompanhada de perto por pais e responsáveis, no intuito de evitar prejuízos e trazer riscos à segurança da população. O engenheiro eletricista da Cemig, Demetrio Venicio Aguiar, vai além e amplia as recomendações. “As pipas devem ser empinadas em locais abertos e afastados da rede elétrica. Jamais use fios metálicos ou cerol e, caso a pipa fique presa, não tente resgatá-la”, orienta.

Além disso, o engenheiro alerta sobre uma novidade que vem agravar os problemas e os riscos: um tipo de cabo cortante feito em escala industrial, chamado de “linha chilena”, mais refinado e com materiais mais abrasivos que o cerol. “Esse tipo de linha é muito mais cortante do que o cerol comum, e infelizmente é possível adquirir este material de origem estrangeira pelo mercado paralelo e até pela internet”, afirma Aguiar.

Além dos prejuízos causados pela falta de energia, a Cemig também alerta para os riscos à segurança que a soltura de pipas pode trazer quando praticada próxima à rede elétrica.

Aguiar explica que a maioria dos acidentes acontece quando o papagaio fica preso na rede elétrica e as crianças tentam retirá-lo utilizando materiais condutores, como pedaços de madeira ou barras metálicas. O contato com a rede elétrica pode ser fatal, além do risco de queda em função da reação involuntária causado pelo choque elétrico.

Nesses casos, as consequências mais comuns são traumatismos devido às quedas e queimaduras graves por causa dos choques. O engenheiro chama a atenção ainda para o fato de que o uso do cerol pode transformar uma simples linha de papagaio em um material condutor e provocar choque elétrico ao entrar em contato com a rede. Além disso, muitas crianças amarram as pipas com arames e fios. “São materiais altamente condutores de energia e que acabam sendo energizados quando tocam os cabos de energia, causando o choque elétrico”.