Com uma dívida total consolidada de R$ 15 bilhões a Cemig luta abertamente em busca de uma solução para estender sua dívida bem como reduzir esse volume de compromissos. O caminho é a venda de ativos e geração, transmissão e outras empresas ou participações que não são do core business da empresa, aliás, esse é um mantra que a companhia já vem apontando desde o ano passado. A meta é a de colocar no mercado R$ 6,5 bilhões em ativos, mas a perspectiva é de uma taxa de sucesso de R$ 3,5 bilhões em vendas até meados de 2018.

Segundo o diretor de Desenvolvimento de Negócios, Cesar Vaz, a estratégia de venda de ativos vai ao encontro da necessidade da empresa reduzir a sua alavancagem. Ele admite que a empresa poderá não ser bem sucedida em todas as intenções de venda em decorrência das dificuldades da Cemig por ser estatal em alienar ativos.

“Por ser estatal e ao participar de investimentos em sociedades como minoritários podemos ter dificuldades de venda. Seja em sociedades onde há o envolvimento de negociação dos outros sócios ou a própria lei do estado em determinados casos. Podemos não ter sucesso em todos os ativos, a expectativa de ter sucesso de 50%”, revelou ele em evento com analistas e investidores da companhia em Belo Horizonte com transmissão pela internet nesta quinta-feira, 1º de junho.

A Cemig revelou que pretende vender suas participações em Santo Antônio, Norte Energia, a divisão de geração da Light (Light Energia), ações da Taesa fora do bloco de controle, linhas de transmissão em Minas Gerais, as divisões de Telecom e Gás, bem como outras participações menos relevantes. Além disso, está previsto ainda a capitalização da Renova com a entrada de um novo investidor que assumiria as dívidas da empresa.  Tudo levaria a um valor patrimonial de R$ 6,5 bilhões, ou seja, ao se confirmar as vendas da empresa, seriam obtidos com as alienações previstas pouco mais de R$ 3,5 bilhões.

Os maiores valores são das ações da Taesa com R$ 1,5 bilhão, pouco mais de R$ 1,2 bilhão com a venda dos 18% de participação direta e indireta em Santo Antônio, quase R$ 1,4 bilhão pelos 12% na Norte Energia, concessionária da UHE Belo Monte, R$ 530 milhões pela venda da Light Energia e mais R$ 1,2 bilhão da Gasmig.

O executivo explicou que os critérios utilizados para colocar os ativos à venda passam por  maior liquidez com possibilidade de receber os recursos em menor prazo, ativos com retorno em prazo mais estendido como é o caso de Santo Antônio cuja perspectiva é de 2022 no caso da empresa, e ainda, ativos não estratégicos ou minoritários e de complexidade de governança.  O programa já está em curso desde o ano passado e já resultou na venda da Transchile, follow on da Taesa e venda de ativos da Renova como o Alto Sertão II para a AES Tietê e a negociação da TerraForm Global para a Brookfield. E ainda a venda de um Data Center que tinha na capital mineira.

UHE Belo Monte, onde a Cemig possui 12% de participação

O caso da Renova está aparentemente equacionado com a negociação de entrada de novo sócio na empresa por meio da liquidação de dívida que sobrará depois das alienações anunciadas recentemente. “Aí sim a empresa estará com as suas necessidades de capital resolvida e pronta para novos empreendimentos. A Renova  tomou bastante tempo nosso no ano passado. Negociamos o financiamento de longo prazo com o BNDES e outros bancos para a estrutura financeira de Alto Sertão  III. Com essa proposta aprovada temos o presente da Renova resolvido e olharemos para o futuro da companhia”, destacou Vaz.

Além das vendas ainda estão no foco ações para aliviar o caixa da Cemig sendo que a principal é a devolução da UHE Itaocara, última usina de porte leiloada no Brasil, arrematada por Cemig e Light em sociedade. Outras alternativas avaliadas são a descontratação ou substituição do PPA para outro empreendimento do grupo. E há outras ações envolvendo outras geradoras eólicas em que possui sociedade.

Perfil da dívida
Ao mesmo tempo a estatal mineira busca reperfilamento da sua dívida junto aos bancos. O diretor de Finanças e de Relações com Investidores, Adézio Lima, lembrou que uma parte da redução das dívidas vem da redução de custos da empresa. Revelou que além da venda de ativos elencados acima há R$ 170 milhões em imóveis que foram identificados como não essenciais ao negócio da companhia, que além de recursos financeiros reduz despesas.

O executivo enumerou uma série de movimentos que levaram à situação delicada que a empresa se encontra atualmente onde R$ 10 bilhões em dívidas vencem até dezembro de 2018. Uma situação que a empresa quer alongar. Um dos motivos apontados por ele que resultou na disparada do endividamento foram os investimentos no crescimento em outros negócios para expansão e o pagamento de dividendos elevados.

“Os dividendos pagos somados de 2011 a 2014 em valores nominais nesse período ficaram em cerca de R$ 9 bilhões”, apontou. “Saímos de 2013 com endividamento de R$ 6 bilhões para R$ 13 bilhões e a divida total é de R$ 15 bilhões consolidada em 2016”, continuou o executivo.

As premissas para  a renegociação da dívida da Cemig, contou Lima, é preservar a liquidez da companhia. A meta é de conseguir carência e alongamento da dívida com os bancos com quem a empresa se relaciona. E esclareceu que a empresa mineira não quer desconto do principal da dívida. “Queremos pagar o que devemos e essa negociação é restrita aos bancos e não inclui o mercado de capitais”, acrescentou.

Entre as linhas com a qual trabalha está a de obter carência de três anos e outros cinco anos para o pagamento. E argumentou que a Cemig é uma empresa saudável do ponto de vista operacional ao citar os resultados de caixa da companhia. “Precisamos de prazo para o pagamento da divida, a Cemig é saudável para pagar suas obrigações financeiras”, concluiu.