O processo de recuperação da Eletrobras é possível sim. De um cenário caótico que se colocou 10 meses atrás a empresa apresentou já resultados diversos como um alinhamento estratégico, programa de vendas de ativos, redução de custos e busca de novas fontes de recursos. Nesse sentido, a empresa projeta que ao final do processo de 178 SPEs tenha menos de 40 sociedades e de 17 subsidiárias poderá encerrar esse processo com cinco companhias controladas.
Esses dados foram apontados pelo presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior. “A companhia precisa de racionalização, não precisa ser tão grande para que ter empresas regionais se o sistema é interligado, mas isso é um debate que deve ser feito”, comentou ele em evento realizado pela Fundação Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo.
Dentro do processo de recuperação, a empresa espera receber até o final do ano o selo de governança da B³ (antiga BM&FBovespa), a primeira estatal a ter essa certificação. Ao se confirmar essa medida a companhia ataca uma das bases que a levaram à complexa situação.
“Em grande medida, faltava governança na Eletobras, as nossas controladas eram conhecidas como as descontroladas da Eletrobras. É óbvio que não existia alinhamento e isso agrava quando faz investimentos não há como governar com a taxa de retorno 90% abaixo do custo de capital da empresa”.
Ele detalhou a situação ao apontar que a operação da empresa passava prejuízo porque o custo real era 50% maior do que a tarifa e nisso, abriu-se um buraco de R$ 3,8 bilhões gerado se nada fosse feito pela companha. Havia SPE que estava até mesmo com retorno de custo de capital abaixo do minimo estabelecido pela companhia.
Em termos de redução de custos o índice buscado é de 30%, mas, continuou ele, a empresa não pode ficar apenas com essa medida, tem que criar instrumentos para aumentar a eficiência e receita para dessa forma conseguir a redução da alavancagem de quase 9 vezes a relação de dívida líquida sobre o Ebitda para algo próximo a 4x, patamar compatível com as nossas operações.
Nesse sentido, o processo de foco da empresa em Geração e Transmissão é um dos pilares mais imporantes para a redução do tamannho da Eletrobras. O presidente da estatal lembrou que a companhia já vendeu uma distribuidora, e que a expectativa é de que as demais possam ser colocadas ao mercado no segundo semestre e completado o processo de venda até novembro.
Além disso, o BTG Pactual já foi contratado para estruturar a modelagem na venda de SPEs que a Eletrobras tem recebido como pagamento de dívidas em que é credora. “Estamos recebendo até o final desse mês um conjunto de 50 SPEs das 110 em operação e vamos organizar com o banco em dois pacotes um de eólicas e outro de transmissão”, disse ele, lembrando ainda do direito de tag along para a venda de projetos de geraçao. O potencial é de levantar cerca de R$ 4,7 bilhões em recursos que serão utilizados para o pagamento de dívidas caras.
A empresa reduziu o plano de investimentos de R$ 50 bilhões para R$ 35,8 bilhões. A otimização envolverá ainda a redução no número de subsidiárias da empresa ao apontar entre as possibilidades a integração das geradoras CGTEE na Eletrosul e a Amazonas Energia na Eletrnorte. Em transmissão, a empresa ainda foca em terminar os projetos que arrematou em leilões em anos anteriores.
Esse caminho da privatização foi defendido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que relatou os problemas que teve quando da época da privatização das empresas do setor elétrico. Ele afirmou que somente a geração da Eletrosil foi privatizadas nos anos 1990 porque nas outras havia blocos de poder político impossíveis de serem enfrentados. “Tentei o que podia. Era impossível. No fundo era um condomínio enorme, essa que era a realidade quando se fala de estatal que pertence ao povo, não pertence pertence ao político, aos grupos de interesse ali organizados, e isso continua”, discursou.
E finalizou ao recomendar ao presidente da holding que “o que puder privatizar, privatize, porque não há outro jeito (…) ou você aumenta a dose de privatização ou vai ter um novo assalto ao estado pelos setores políticos e corporativos, o grande inimigo do Brasil é o corporativismo”, acusou.