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Relatório para investidores produzido pela gestora de recursos 3G Radar mostra que a ineficiência operacional e decisões equivocadas em projetos levaram a Eletrobras a ter perdas de R$ 186 bilhões desde 2002. A entrada em projetos como as usinas do Madeira, Belo Monte e Angra 3, aliados a federalização das distribuidoras e aos efeitos da Medida Provisória 579 são alguns dos eventos que levaram a esse quadro.
Somente a ineficiência na operação é responsável por R$ 85 bilhões do total de perdas. O documento apresenta comparações diretas entre as subsidiárias da estatal de geração e transmissão e empresas privadas. Uma delas mostra que os custos operacionais poderiam ser R$ 4,1 bilhões menores por ano, em uma comparação direta com players similares. A outra compara a Eletrobras com Engie, AES Tietê e Cteep e conclui que as empresas privadas permitem maiores receitas ao governo e realizam investimentos de modo mais eficiente do que as estatais, sem a necessidade de capital público.
A Eletrobras está com um plano de demissão voluntária em execução que tem o objetivo de tornar a sua operação mais eficiente. O plano tem enfrentado resistência de sindicalistas, que chegaram a divulgar áudios com gravações de reunião em que Wilson Ferreira Júnior, presidente da holding estatal, questionava a supremacia salarial de determinados funcionários. Outras medidas tomadas, como a otimização dos ativos imobiliários, a criação do centro de serviços compartilhados e melhorias na governança corporativa e a venda das distribuidoras também devem impactar positivamente o retrato atual, segundo o relatório. O Plano Diretor de Negócios e Gestão da Eletrobras 2017-2021 prevê a redução em 5.662 no número de funcionários da holding e das controladas. A expectativa é que a economia nos custos chegue a R$ 920 milhões com o plano de aposentadoria e de R$ 616 milhões com a demissão incentivada, somando cerca de R$ 1,5 bilhão.
A presença de Wilson Ferreira Junior na presidência da empresa é elogiada no relatório. A 3G Radar pede mais autonomia para ele, de modo que possa trocar e escolher executivos em cargos importantes na Eletrobras. “Não vemos motivo para ele ter menos autonomia que Pedro Parente na Petrobras”, diz o documento. A cúpula do MME também é elogiada pela gestora de recursos, pela busca em atrair investimentos privados para o setor elétrico.
Nos projetos estruturais, as perdas chegaram a R$ 20 bilhões. Jirau, Santo Antônio e Belo Monte eram considerados projetos grandes e complexos, o que demandaria altos custos e riscos. O governo estabeleceu uma tarifa de base menor que a média, o que acarretou uma baixa taxa de retorno implícita. Os investimentos subiram de 20 a 25% em média e os retornos, que giravam entre 7% e 8% foram reduzidos para zero. Nem mesmo a tarifa mais baixa para o consumidor foi preservada, já que as consequências dos atrasos levaram a perdas de R$ 15 bilhões para os consumidores finais.
A termelétrica nuclear de Angra 3 é outra perda de R$ 20 bilhões para a Eletrobras. A usina deveria estar operando, mas já consumiu R$ 10 bilhões em investimentos e ainda necessita de outros R$ 16 bilhões para ser finalizada. O retorno inicial esperado era de 7,5%, com uma tarifa de R$ 230 MW/h. Em caso de retomada, o relatório diz que um novo nível tarifário vai definir o retorno. A 3G Radar estima que ela fique em R$ 360/MWh. A 3G sugere que a tarifa da UTE nuclear seja cotada em dólar.
As seis concessionárias de distribuição que a Eletrobras federalizou no início do século foram responsáveis por R$ 41 bilhões em perdas desde 2002. Elas deveriam ter sido privatizadas, mas o governo vinha postergando a decisão final. Em áreas de concessão complexas, sempre foram campeãs de perdas de energia. A gestão dessas distribuidoras acabou por levar a Eletrobras a ter uma dívida de R$ 16 bilhões em combustível de sistemas isolados. A atual gestão decidiu não renovar as concessões e privatizar as distribuidoras até o fim do ano, o que segundo o relatório, foi uma antecipação do que acabaria acontecendo em até dois aos devido a regulação atual.
O relatório evidencia que a MP 579, que renovou as concessões vincendas de geração e transmissão de energia também levou a uma perda econômica de R$ 20 bilhões. O movimento levaria a uma redução de 20% nas tarifas, mas acabaram trazendo desequilíbrio, distorção de preço e problemas de balanço. Como o Grupo Eletrobras era o que tinha mais ativos para serem renovados, foi o mais impactado, tendo uma perda de receita bilionária.
A reversão da MP, que seria a ‘descotização’, está sendo proposta pelo governo na consulta pública do novo modelo. Porém, a 3G Radar ressalta que o fim do regime de cotas só faria sentido caso a receita seja integralmente revertida para a Eletrobras, de forma a mitigar as perdas que ela teve com as cotas. “Qualquer decisão baseada em direcionar receitas potenciais exclusivamente para o governo e resultar em aumento de capital na Eletrobras seria um claro conflito de interesses e não faria sentido para a empresa e seus acionistas minoritários”, explica