A agência de classificação de risco Fitch Ratings atribuiu na última sexta-feira, 25 de agosto, o Rating Nacional de Longo Prazo ‘AAA(bra)’ à proposta de oitava emissão de debêntures da CPFL Paulista, no montante de R$ 700 milhões. A emissão proposta será realizada em três séries, com vencimentos finais em 2022 para a primeira, 2024 para a segunda e 2027 para a terceira, e contará com cláusulas de cross default entre a emissora e a CPFL Energia. Os recursos da emissão serão utilizados em projetos de investimento da companhia.
O rating da proposta de emissão de debêntures da CPFL Paulista reflete a qualidade de crédito consolidada do grupo CPFL, com um robusto perfil de crédito que mostra sua forte posição de mercado como um dos maiores grupos privados do setor elétrico brasileiro. Sua relevante base de ativos de distribuição e geração de energia elétrica contribui para a maior diversificação da adequada geração de caixa operacional e para a diluição de riscos operacionais, mais presentes no segmento de distribuição.
A avaliação também incorpora a expectativa de que o grupo conseguirá gerenciar seu fluxo de caixa livre (FCF) — que deve se manter positivo — e se beneficiar de sua adequada posição de liquidez e da satisfatória flexibilidade financeira. A Fitch espera gradual redução da alavancagem líquida consolidada, que se encontra moderadamente elevada para os ratings do grupo. A avaliação contemplou também o moderado risco regulatório do setor elétrico brasileiro e o risco hidrológico atualmente acima da média histórica.
Os ratings das empresas do grupo incorporam os atuais e futuros benefícios do novo controle para os perfis de crédito das companhias. A Fitch entende que estes benefícios se materializam em cláusulas de cross default existentes em dívidas de subsidiárias da SGID no mercado internacional, com a empresa chinesa figurando como garantidora. Os termos destes instrumentos estabelecem que a inadimplência de qualquer subsidiária na qual a SGID possua participação direta ou indireta, superior a 50%, pode acelerar estas dívidas no mercado internacional. No caso da CPFL Energia, holding do grupo CPFL, a SGID possui, indiretamente, 54,64% do seu capital e pretende adquirir o restante do controle até o final de 2017.
A Fitch acredita que a flexibilidade financeira da CPFL aumentará ao longo do tempo, devido ao vínculo com o novo controlador. A agência também espera suportes adicionais das controladoras direta e indireta do grupo, que podem se concretizar por meio de aportes de capital, mútuos, garantias de dívida e intermediação de empréstimos menos onerosos de instituições financeiras chinesas.
Em bases consolidadas, a alavancagem financeira líquida da CPFL Energia está moderadamente elevada para a categoria de rating, mas deve diminuir gradualmente e atingir um patamar mais conservador em 2018. A expectativa da Fitch é de que a empresa apresente alavancagem, medida por dívida líquida ajustada/EBITDA, de 3,6 vezes em 2017, com redução para 3,2 vezes em 2018. Estas projeções assumem EBITDA de R$ 4,5 bilhões e de R$ 4,9 bilhões, nos respectivos períodos. Em 30 de junho de 2017, a relação dívida total ajustada/EBITDA era de 4,8 vezes, com o índice de 3,9 vezes quando considerada a alavancagem financeira líquida — o que representa ligeira redução frente a anos anteriores.
As projeções da Fitch indicam FCF positivo em cerca de R$ 100 milhões em 2017 e de R$ 200 milhões em 2018, com base em um fluxo de caixa das operações (CFFO) de R$ 2,9 bilhões e de R$ 2,6 bilhões, respectivamente, bastante inferior ao FCF de R$ 4,7 bilhões reportado em 2016. O FCF, por sua vez, deve ser impactado pelos elevados investimentos anuais, em torno de R$ 2,2 bilhões de 2017 a 2019. No entender da Fitch, o atual controlador pode introduzir uma nova política de dividendos. A Fitch considerou como premissa o pagamento de dividendos de 25% do lucro líquido do ano anterior.
A Fitch acredita que a geração operacional de caixa consolidada do grupo se beneficiará de uma gradual retomada do consumo de energia em suas áreas de concessão no segmento de distribuição, com crescimento em torno de 1,1% em 2017. Em 2016, o consumo de eletricidade no país diminuiu 1,0%. Somadas as áreas de concessão da CPFL, a queda foi de 3,5%, desconsiderando a RGE Sul, incorporada pela companhia apenas em novembro de 2016. Pelo mesmo critério, a demanda mostrou leve recuperação no primeiro semestre de 2017, com aumento de 0,3% em relação a igual período do ano anterior.
A Fitch considera positiva a expansão das atividades do grupo CPFL no segmento de geração de energia, que representou 50% do EBITDA consolidado no primeiro semestre de 2017. A CPFL Energia se beneficia da relevante capacidade instalada de 3.294 MW, proporcional à sua participação, proveniente de suas várias usinas de geração convencional (2.209 MW) e renováveis (1.085 MW).
Mesmo com a expectativa de crescimento do consumo de energia nos próximos anos, o grupo CPFL terá que administrar seu volume de contratação de energia em suas distribuidoras na faixa de 100% a 105% da demanda prevista nos próximos anos, utilizando-se dos mecanismos disponibilizados pelo regulador, a fim de evitar impactos negativos no fluxo de caixa. A Fitch também continuará monitorando possíveis pressões nos índices de perda e de inadimplência no segmento de distribuição, tendo em vista o atual cenário macroeconômico, ainda desafiador. A maioria das distribuidoras do grupo CPFL tem apresentado perdas acima dos limites regulatórios reconhecidos em suas tarifas.