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Com apetite voraz para confirmar novos investimentos dentro dos leilões de geração e de transmissão agendados para o final deste ano, a Engie está avaliando os riscos de mercado antes de fechar as estratégias de participação nos certames. O principal deles está associado ao escoamento da produção de energia em projetos de parques eólicos e fotovoltaicos que a empresa pode apresentar nos Leilões A-4 e A-6. O objetivo é evitar o que aconteceu em bids passados e se reflete agora, com empreendimentos construídos e parados por falta de conexão entre o sítio e o ponto de entrega à rede básica de transmissão.

“O que vai definir nossa estratégia de participação nos leilões de geração é a capacidade de escoamento. Hoje há restrições de escoamento de energia por causa do atraso das obras de linhas no Nordeste. Vamos nos posicionar, em todos os nossos parques, no sentido de verificar qual a capacidade de escoamento que vai ter em cada uma das subestações associadas. Então saberemos quanto será possível ofertar, qual o nível de competição que vai ter. Isso vai ser fundamental para a estratégia em geração”, explica o presidente da Engie Brasil Energia, Eduardo Sattamini, indicando a presença do grupo em solar fotovoltaica e eólica.

A dinâmica da participação da Engie nas licitações de geração e transmissão, segundo ele, se dará ainda em função do sucesso que a empresa obtiver entre um evento e outro – a sequência começa no dia 15 de dezembro, com o segundo Leilão de Transmissão do ano, seguindo no dia 18 de dezembro com o Leilão de Energia A-4 e terminando dois dias depois, 20, com o Leilão A-6. “Se tivermos um volume muito grande em alguns dos leilões, talvez não tenhamos condições de investir nos outros. O momento do investimentos para cada um dos leilões é diferente, exigindo equilíbrio em aspectos como geração de caixa”, diz.

A indicação da entrada em operação dos projetos em cenários de quatro a seis anos – acima dos prazos dos leilões passados, que iam de três a cinco ano – sinaliza, explica o executivo, um excesso de oferta frente ao nível atual de demanda do mercado nacional. “O governo foi muito hábil em gerar uma expectativa para a indústria já a partir de agora, principalmente para a eólica, que vem parada já há algum tempo. Isso garante que as fabricantes tenham visibilidade para uma demanda futura”, avalia Sattamini. Em paralelo aos planos de participação em investimentos por meio dos leilões do governo, a empresa ataca em outras frentes.

Uma delas é a aquisição de projetos interrompidos ou não iniciados, em especial junto a empresas que apresentaram dificuldades financeiras nos últimos anos e não conseguiram efetivar investimentos pré-programados. Caso do Complexo Eólico Umburamas, ainda na planta, que foi adquirido em agosto deste ano junto a Renova por R$ 15 milhões. Após a Aneel anuir a transferência de controle o projeto, a Engie espera por outras aprovações para poder anunciar, em novembro, a conclusão do trâmite burocrático, ao mesmo tempo em que finaliza as negociações com construtoras e fornecedores de equipamentos para início das obras.

“A perspectiva é iniciar a operação do parque até o início de 2019. Do projeto original totalizando 605 MW de capacidade instalada, 360 MW serão implementados imediatamente”. O executivo destaca ainda o sucesso obtido no leilão de transferência de concessão das hidrelétricas da Cemig, em setembro passado, no qual arrematou as usinas de Jaguara e Miranda, somando 832 MW de capacidade. “Trata-se de energia renovável de grandes e médias hidrelétricas. É o nosso core business. Além do fato de estarem no Sudeste, onde passamos a ter menor risco em relação ao submercado”, observa o presidente da geradora.

Impacto do GSF no balanço

Apesar do impacto positivo dos negócios realizados e projetados, Sattamini lamenta o revés da empresa com os efeitos da péssima hidrologia recente, que afetou negativamente o balanço do trimestre encerrado em setembro último no que diz respeito à conta relacionada ao delta GSF. Segundo ele, a Engie inicialmente estava bem preparada para absorver os custos do risco hidrológico, mas a escassez de chuvas acabou agravando a situação. “Tivemos que ir ao mercado comprar energia a um preço um pouco mais baixo que o PLD, mas que, ainda assim, afetou o resultado do último trimestre. Esperemos uma melhora no próximo”, afirma.

O executivo resigna-se do efeito-cascata decorrente da forte crise hídrica vivida em diversas regiões do país – aumento do despacho termelétrico a custos mais elevados para o Sistema, que por sua vez implica diretamente na elevação do Preço de Liquidação das Diferenças e por consequência, em tarifas mais caras para o consumidor final. “Para o gerador hidrelétrico, esse quadro acaba gerando o GSF. É ruim para a sociedade como um todo, mas é uma característica do nosso sistema hidrotérmico. Além da crise hídrica, o atraso de linhas também é um fator negativo, por impedir o escoamento de projetos importantes”, diz ele.

*O jornalista viajou a convite da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina