Lideranças do segmento de pequenas usinas hidrelétricas defenderam em seminário na Câmara dos Deputados o aumento da participação da fonte nos leilões de expansão nos próximos anos. O presidente da Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidreletricas e Centrais Geradoras Hidrelétricas, Paulo Arbex, lembrou que os investidores nessas usinas passaram os últimos 15 anos “a pão e água”. Luiz Otávio Koblitz, presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa, propôs a contratação de 2 mil MW da fonte por ano.
A discussão sobre a participação de PCHs (usinas entre 5 MW e 30 MW) e de CGHs (usinas até 5 MW) na matriz elétrica aconteceu na manhã desta terça-feira, 31 de outubro, na terceira edição do seminário “Energias Renováveis e o Futuro das PCHs e das CGHs”. O evento foi organizado pela AbraPCH, em parceria com a Frente Parlamentar em Defesa das PCHs e da Microgeração. Dirigente da associação, Arbex destacou que o preço dos leilões de energia nova não representa o custo efetivo da fonte.
O executivo citou uma série de vantagens de PCHs e CGHs, entre elas a redução da necessidade de novos investimentos em grandes linhas de transmissão. Ele destacou que usinas hidráulicas menores tem também “a menor pegada de carbono entre as fontes renováveis.” As emissões de gases de efeito estufa pelo setor elétrico cresceram 700% de 1990 a 2014.
No Nordeste, disse o presidente da AbraPCH, há um potencial significativo para novas usinas, com 860 MW em PCHs e 811 MW em CGHs. Apesar disso, a fonte foi a menos contratada em 12 anos, com 1.721 MW. “Nossa proposta é contratar o que for possível”, defendeu Arbex.
Para Koblitz, da Abragel, as PCHs podem suprir as dificuldades atuais das usinas hidrelétricas. Ele disse que existe um potencial de 19 mil MW fora do bioma amazônico, distribuído em cerca de 1900 projetos, que têm a vantagem do baixo risco de atrasos no licenciamento e na construção. Desses, 7.021 MW estariam disponíveis no curto prazo, com 1.856 MW em empreendimentos prontos para participarem de leilões de geração.
O dirigente acredita que a expansão “deve ser por meritocracia”, com PCH e biomassa em primeiro lugar; energia solar distribuída em seguida; hidrelétrica, eólica e solar em terceiro lugar e cogeração e usinas a gás natural por último. Koblitz alerta que o Brasil terá de se preparar para o aumento do consumo de energia no futuro, não apenas pela recuperação da economia, como pelo avanço do carro elétrico. “Como a gente pode projetar o setor elétrico achando que isso não vai mudar?”, questiona.
O superintendente de Concessões de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica, Hélvio Guerra, lembrou que existem 7 mil MW em potencial ainda não explorado, dividido em 500 empreendimentos que podem ser licitados. Isso equivale, segundo ele, à capacidade somada das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau e a metade de Belo Monte.
Dos 500 projetos, informou Guerra, em torno de 20% têm licença ambiental de instalação e Declaração de Reserva de Disponibilidade Hídrica emitidas. Quando se fala nesse potencial, disse, está se falando em R$ 60 bilhões em investimentos. Ele lembrou que Goiás, Paraná e Santa Catarina são os estados com maior potencial para construção desse tipo de usina.
“Todos os índices socioeconômicos, sem exceção, crescem nos municípios onde tem PCHs”, afirmou o superintendente . Ele admitiu que há impactos negativos, mas ressalvou que eles são suplantados pelos efeitos positivos das pequenas centrais.