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A inauguração do Laboratório de Ultra-Alta Tensão Externo do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica, na última quinta-feira (7) em Adrianópolis, no Grande Rio, acabou servindo como ato informal em defesa da instituição, que deixará de ter a Eletrobras e suas subsidiárias como mantenedoras principais a partir da conclusão da desestatização do Grupo. Dirigentes do órgão e de demais empresas e entidades presentes ao evento reafirmaram a importância do Cepel para o setor elétrico e defenderam a continuidade dos seus trabalhos de pesquisa, que agora se vê ameaçada pela retração gradual de injeção de recursos públicos.
Primeiro a falar na cerimônia, o diretor-geral do Centro, Marcio Szechtman, foi incisivo ao comentar a necessidade de preservação do papel desempenhado pelo Cepel desde a sua inauguração, em 1974. Segundo ele, a possibilidade de descontinuidade das atividades laboratoriais de pesquisa e desenvolvimento tocadas pelo órgão, a partir da saída da órgão do guarda-chuva do Grupo Eletrobras, representaria na prática uma ruptura estrutural em parte importante do setor elétrico brasileiro. Mesmo a perda do principal patrocinador já sendo tratada como fato consumado, Szechtman acredita na manutenção do dia-a-dia.
“Apesar de não haver garantia de que a Eletrobras continue como mantenedora do Cepel, e essa é a tendência, essa conquista, que é termos um centro nacional de pesquisa no setor elétrico operando há quase 44 anos, será preservada, não tenho dúvidas. Estamos trabalhando no sentido de dar maior transparência na prestação de contas visando uma abertura para novos associados”, afirmou, citando que a Eletrobras responde hoje por 85% do orçamento do Cepel. Entre as empresas que estão se associando à instituição estão Petrobras – que já conta com um centro de pesquisas próprio, o Cenpes – e o Grupo Energisa.
De acordo com Szechtman, a busca pela diversificação de patrocinadores vem de antes da divulgação da proposta de privatização da Eletrobras, em agosto último, já que a capacidade de investimentos por parte da holding e de suas subsidiárias caiu desde o lançamento da Medida Provisória 579, em 2012. “O que a proposta de desestatização da Eletrobras, e a sua consequência para o Cepel, mais impactou foi no ânimo das pessoas, no temor dos funcionários em relação ao que pode vir a acontecer. Em janeiro, quando cheguei, já havia essa sinalização de que era preciso abrir a instituição para outros parceiros e fontes”, disse.
“Novas oportunidades”
Presente à inauguração, o diretor de Geração da Eletrobras, Antônio Varejão de Godoy, disse não acreditar que o processo de desestatização do Grupo resulte na desestruturação do Cepel, mas alertou que a busca por novos associados será crucial para o centro de pesquisas manter as suas operações. O tema foi discutido pela gestão do Conselho Deliberativo do Cepel esta semana, onde ficou clara, segundo ele, a tendência de perda gradual de participação da holding e a substituição pela presença de agentes privados. “O cenário provável para o Cepel passa pela busca de novos parceiros de uma maneira mais forte”, sinaliza Godoy.
A avaliação do diretor de Geração da Eletrobras foi reforçada pelo secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Fábio Lopes. Ele afirmou ver a provável mudança no modelo de estruturação financeira do Cepel como uma espécie de “abertura de oportunidades de negócio” para a instituição. “É como o filho que sai de casa e que, de uma hora para outra, deixa de contar com a mesada do pai. É um desafio que surge e que, na prática, só irá valorizar ainda mais as competências do Cepel, cujo papel de prestação dos serviços que ele cumpre será mantido, como sempre foi”, pontou o representante do MME.
Apesar do otimismo da Eletrobras e do Ministério, o diretor do centro encara o horizonte de forma mais reticente. Como alternativa à chance de perda repentina da fonte majoritária de recursos, Szechtman sugere mudanças legislativas que visem alterar a natureza do Cepel – hoje uma entidade privada – como meio de garantir destinação orçamentária para o órgão. “Caso a desestatização saia, como será esse novo conglomerado? Como ele vai olhar o Cepel? Nós não sabemos. Vamos ver como reage esse novo ente privado, como ele vai encarar a instituição. Num caminho ou noutro, o Cepel vai sobreviver”, frisa o dirigente.