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Após 2017 marcar o primeiro ano de operação plena da hidrelétrica de Santo Antônio, com a disponibilização ao Sistema dos 3.568 MW de capacidade instalada total, a usina se prepara para passar, em 2018, por restrições operacionais diversas. Entre elas está a exigência de termos firmados nos contratos de fornecimento junto aos fabricantes das turbinas do tipo bulbo, que implica na realização de manutenções preventivas em mais da metade das unidades geradoras nos primeiros meses de funcionamento dos equipamentos. Com a obrigatoriedade, a perspectiva é que 37 das 50 máquinas sejam interrompidas.
O cronograma da Santo Antônio Energia, operadora da hidrelétrica instalada no Rio Madeira (RO), prevê que as paradas sequenciais das 37 unidades sob avaliação devam ocorrer a partir de junho, quando a vazão média do rio é reduzida para aproximadamente 4 mil m³/s – na fase de cheia o volume atinge cerca de 40 mil m³/s. O ciclo de manutenção dos equipamentos deve se estender até novembro, quando o regime das águas do Madeira volta a se avolumar. Com isso, a ideia da empresa é aproveitar justamente o período de menor vazão do rio para executar a fiscalização obrigatória das turbinas e dos demais estruturas associadas.
“Todo esse trabalho está relacionado ao regime de inspeções contratuais, que são verificações regulares a cargo das fornecedoras. Em 2018, por força desses contratos, ainda teremos muitas máquinas parando mais que o normal, mas a partir de 2019 a quantidade dessas paradas serão reduzidas bastante, para algo entre 18 e 19 unidades por ano”, explica o diretor de Operações da Santo Antônio Energia, Dimas Maintinguer. Entre as principais empresas que forneceram todo o conjunto de equipamentos e componentes eletromecânicos das 50 unidades geradoras da hidrelétrica estão a Voith, GE Power (englobando a Alstom) e a Andritz Hydro.
O executivo estima que o tempo médio de manutenção preventiva de cada uma dessas unidades gire em torno de 30 a 40 dias, sendo que a quantidade de máquinas paradas ao mesmo tempo dependerá da vazão do rio no período de baixa, entre os meses de junho e novembro. O orçamento da companhia para o ano que vem na operação e na manutenção da usina, englobando não apenas as paradas contratuais mas também outras ações normais, está previsto em cerca de R$ 175 milhões. Outros R$ 50 milhões estão orçados ao longo de 2018 em gastos com materiais, contratos, programas socioambientais, reassentamentos e serviços diversos.
FID e GSF
A outra restrição operativa com a qual Santo Antônio terá de conviver em 2018, assim como Jirau (3.750 MW) – a outra mega-usina do Madeira –, já está sendo sentida em 2017: a limitação de geração em razão do erro de projeto em um dos eletrodos do linhão de transmissão que leva a energia das duas hidrelétricas até a cidade de Araraquara (SP). Como a obra de reparo só será concluída em 2019, o sistema de corrente contínua de 7.100 MW de capacidade de escoamento permanecerá limitado a 5.800 MW. No caso de Santo Antônio, a restrição na capacidade de geração, quando em períodos de vazão máxima do rio, pode chegar a 600 MW.
Os desafios operacionais em Santo Antônio em 2018 vão além de questões restritivas conjunturais. A usina pretende, já a partir do próximo ano, atingir de forma permanente o índice de 99,5% de Fator de Disponibilidade de Geração estipulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica – percentual considerado “muito agressivo” por Maintinguer. “Na maior parte das outras empresas hidrelétricas o FID é de 95%, 96%, principalmente em empreendimentos novos”, cita o diretor. Nos últimos cinco meses o índice de disponibilidade de Santo Antônio atingiu a marca de 99,99%, sendo que o fator é calculado com base numa média móvel dos últimos 60 meses.
Um foco de atenção especial do executivo no momento está na Medida Provisória que o governo federal deverá enviar ao Congresso Nacional na próxima semana com a proposta de regularização do mercado de energia elétrica, fortemente travado por liminares judiciais blindando os geradores hidrelétricos de pagamento decorrentes do risco hidrológico (GSF, na sigla em inglês). O débito de Santo Antônio, protegido por ações na justiça, atingiu R$ 720 milhões entre janeiro e outubro deste ano. Desde o início da operação da usina, em 2012, a conta já chega a R$ 2,2 bilhões. “Não há como sobreviver com esse impacto financeiro, desequilibra o fluxo de caixa”, diz.
* O jornalista viajou a convite da Santo Antônio Energia
(Nota da Redação: Matéria alterada às 19:10 horas do dia 18 de dezembro de 2017 para correção de informações)