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Não se pode dizer que todos os geradores ficaram plenamente satisfeitos com o resultado do leilão A-6, mas mesmo quem tinha alguma ressalva demonstrou confiança de que as condições já avançaram e podem melhorar para os próximos certames. Para as distribuidoras, no entanto, o leilão foi um sucesso pela quantidade de energia negociada – 2.930 MW médios – além de surpreender de forma positiva com os preços contratados.

No certame realizado nesta quarta-feira, 20 de dezembro, foram contratados 63 novos empreendimentos de geração com  potência instaladas de 3.841 MW potência e 2.930 MW médios de energia negociada. Os investimentos estimados são de R$ 13,9 bilhões em projetos de fonte eólica, hídrica e termelétrica a gás. O deságio médio em relação aos preços de referência ficou em  38,7%.

A presidente da Associação Brasileira de Energia Eolica, Élbia Gannoum, diz que não houve surpresa com o desempenho da fonte, que negociou 1,45 GW médios somando os contratos dos leilões A-4 (que aconteceu na segunda, 18) e A-6. “O mercado estava esperando uma demanda mais ou menos nesse nível”, disse em teleconferência com jornalistas.

Para a executiva da Abeeólica, o montante contratado nos dois certames “é um sinal extremamente relevante” para pensar em retomada dos investimentos. Ela considera que as quantidades negociadas foram razoáveis, comparado ao cenário econômico de crise do país.

Sobre os deságios, Élbia afirma que é coisa mais complexa para ser avaliada, e que será necessário um pouco mais de tempo para entender melhor as estratégias dos investidores. Avalia, porém que eles, seguramente, refletem a conjuntura da economia, com sinalização de queda das taxas de juro e do custo de capital. “Você vê que tem grandes montantes contratados. Então, quando tem um montante maior contratado tem ganho de escala, tem negociação com fabricantes, tem possibilidade de antecipação. É muito difícil analisar agora porque cada empreendedor tem sua estratégia.”

Elbia lembra que os impactos do que aconteceu nos dois últimos anos com a fonte eólica sobre a cadeia de suprimento não pode ser consertado, e a solução agora é olhar para a frente. A fonte voltou a contratar nos leilões de energia nova desse ano, depois de ter amargado 2016 sem qualquer contratação de novos empreendimentos.

O presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa, Luiz Otávio Koblitz,  reconhece que o preço teto de R$ 281,00/MWh estabelecido pelo governo para as pequenas centrais hidrelétricas foi “coerente e necessário.” Ele lamenta, porém, que a fonte não tenha conseguido atingir 8% dos contratos negociados no leilão. Em termos de potência instalada, as seis PCHs vencedoras do certame representam 3,61% (139 MW) do total. Em montante de energia, elas negociaram 2,65%, ou 76,5 MW médios. “Obviamente, é muito baixo. E nós não estamos contentes com isso”, afirmou Koblitz.

A explicação para o baixo desempenho das pequenas usinas de fonte hídrica é que as vendas foram baixas porque o governo comprou pouco. “No meu entendimento, a média [de preços] teria que ser R$ 250, R$ 260/MWh para se vender 70% do que estaria ali colocado. Resultado: vendeu 27%. Há uma incoerência”, avalia o executivo. Para Koblitz, “PCHs não é pret-a-porter, como eólica e fotovoltaica. É alfaiataria”. Cada projeto tem suas características mas a fonte é a que tem a melhor energia, afirma.

Para o presidente da Associação Brasileira das Geradoras Termelétrica, Xisto Vieira Filho,  a contratação de duas termelétricas a gás de portes médio e grande para a região Sudeste é uma ótima notícia. “A gente fica muito feliz, porque eles são associados nossos. Um diretamente, que é o pessoal do Porto do Açu, e o outro através da Mitsubishi. É um pessoal nota dez, bastante competente”, elogia. Ele critica, porém, a sistemática do leilão, que acabou por excluir da disputa projetos da região Nordeste, subsistema onde as usinas termelétricas são mais necessárias.

Para Xisto Vieira, o resultado do A-6 reforça a tese da Abraget quanto à importância de leilões por tipo de fonte e por submercado. “O resultado do leilão foi ótimo, mas poderia ser excepcional se tivesse, além dessas duas [do Sudeste], uma térmica no Nordeste.”

O executivo também se diz preocupado os deságios elevados oferecidos por empreendedores de todas as fontes. Para as PCHs, o desconto em relação aos preços originais foi de 22%; para térmicas a biomassa, de 34%; para  UTEs a gás, de 33% e para eólicas, de 64%.  “Isso é preocupante. Quanto  maior for o deságio, mais cresce a probabilidade de aparecerem fontes que não vão se materializar. Se o preço está muito baixo, o cara vai ver durante a construção que não vai conseguir. Ninguém vai jogar dinheiro pela janela.” Xisto ressalva, porém, que esse risco não existe em relação aos geradores termelétricos que concorreram no leilão, já que se trata de agentes do mercado “tradicionais e sérios”.

Nelson Leite, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica, justifica o entusiasmo com o resultado do A-6 explicando que a contratação de energia está de acordo com a expectativa que as distribuidoras têm de que em 2023, ano de início de entrega da energia, o problema da sobrecontratação estaria resolvido e haveria demanda a ser contratada.

“Foi uma surpresa, porque teve o deságio médio de 38,7%, e quem saiu ganhando com esse deságio foi o consumidor brasileiro. Deu R$ 68 bilhões de diferença em relação ao preço de referência que tinha sido colocado”, diz Leite. Ele destaca especialmente o preço das eólicas, que chegou a R$ 98,00/MWh, e acredita que valores menores vão ajudar a reduzir o custo da cesta de contratos de energia das empresas.

A explicação para os descontos, na opinião do executivo, pode ser a oferta de equipamentos a preços competitivos pelos fabricantes. “Tem uma capacidade ociosa na indústria, e os equipamentos representam a maior parte do preço do usina. 70% é o custo do aerogerador para a eólica. A outra questão é a disponibilidade de financiamentos externos. Os grandes investidores que tem condição de captar recursos na Europa estão aproveitando isso. A taxa é libor mais 0,5%”, diz.

Leite lembra também que se o empreendedor conseguir antecipar a entrada da usina, ele pode vender a energia no mercado livre, até o início da vigência dos contratos com as distribuidoras. Mas, pondera, ele terá de fazer hedge para mitigar os riscos da variação do câmbio e  da variação do Preço de Liquidação das Diferenças.