A agência de classificação de risco Moody’s avalia que o plano do governo brasileiro de privatizar a Eletrobras é positivo para o crédito da companhia. A injeção de capital que a empresa teria é de cerca de R$ 10,7 bilhões para que o governo tenha a sua participação reduzida a 49,9% dos atuais 75,19%. Contudo, esse volume poderá ser maior a depender de outras necessidades da companhia.
Segundo relatório divulgado nesta quinta-feira, 18 de janeiro, essa injeção de recursos por meio de uma oferta de ações melhoraria o perfil de risco financeiro da companhia em um momento em que o governo enfrenta seus próprios problemas fiscais e tem capacidade reduzida de apoiar as necessidades financeiras da estatal. Porém, a Moody’s alerta para o risco de realmente ser realizada essa transferência de controle para a iniciativa privada por conta do atual cenário político do país e da proximidade com as eleições de outubro.
De acordo com o documento, assinado pela vice-presidente e analista sênior da Moody’s Cristiane Spercel, as diretrizes preliminares contidas no plano de privatização do governo são construtivas para o perfil de crédito da Eletrobras porque ajudarão a companhia em sua estratégia de desalavacagem e fortalecerão sua capacidade de promover novos investimentos. A empresa possui um programa de aportes de R$ 20 bilhões para ser implantado no horizonte de 2022.
As mudanças planejadas no modelo de concessões podem promover oportunidades adicionais para ampliar a a eficiência operacional da companhia. Pois, a alteração no modelo tarifário regulado para uma base de preços de mercado ajuda o segmento de geração da Eletrobras a aumentar sua base de receitas em um terço de sua capacidade instalada. Contudo, impactos positivos sobre o fluxo de caixa podem ser ofuscados parcialmente por fatores como o adiamento da compensação para alguns ativos de transmissão, maior exposição ao risco hidrológico e desembolsos eventuais de caixa por conta de encargos mais elevados para o setor.
De acordo com a análise de cenário da Moody’s, se a privatização ocorrer conforme o planejado, a oferta de ações permitirá uma redução dos níveis de endividamento sobre patrimônio da companhia para o patamar de aproximadamente 40% a 45%, enquanto a relação dívida líquida sobre Ebitda (antes de juros, impostos, depreciação e amortização) deverá cair para abaixo de 3 vezes em 2021, aproximando-se da média do mercado. A Moody’s destaca ainda que o modelo de venda de ações que visa a não concentração de ações para apenas um investidor deverá ajudar na governança da companhia, mesmo que o governo mantenha, como planejado, a golden share para assegurar o poder de vetar algumas decisões de investimento. Mesmo com essa possibilidade, acrescentou a agência, a interferência política, provavelmente diminuiria.
No entanto, a execução do plano de privatização pode se mostrar bastante difícil em 2018 devido à evolução de processos políticos, também afirma a Moody’s. Incertezas incluem requerimentos para reorganização de negócios, tais como a separação da Eletronuclear e da Itaipu, e uma saída bem sucedida da companhia do negócio de distribuição de energia.
“O cronograma para a aprovação [da privatização] em 2018 é muito apertado face as eleições presidenciais e estaduais em outubro, bem como em função de outras discussões em termos de reformas que estão em curso no Congresso Nacional”, apontou.
Por enquanto, a Moody’s ainda listou uma série de dúvidas que ainda pairam sobre o futuro do setor elétrico como por exemplo o arcabouço regulatório como o GSF, valores que serão devidos à CDE após a privatização, e ainda, como será o acordo acerca da revitalização do São Francisco.