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A partir dessa semana, a plataforma Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE) oferece ao mercado mais um novo serviço. Além da transação de balcão e registro de negociações, a empresa também investiu para criar um ambiente eletrônico onde os agentes poderão comprar e vender energia por meio da realização de leilões virtuais.
Segundo Victor Kodja, presidente da BBCE, esse é mais um passo para transformar a plataforma na futura bolsa de energia do Brasil. As novidades, garante o executivo, não param por aí. Outros serviços estão programados para serem lançados ainda neste ano.
“É uma nova plataforma que estamos oferendo e queremos entrar com força total nesse mercado”, diz o executivo. “Mas não paramos por aí, nos planos estratégicos está previsto lançar novos produtos neste ano, como certificado de energia renovável e um produto para biomassa de cana de açúcar”, diz o executivo, em entrevista exclusiva à Agência CanalEnergia.
Os sócios da BBCE investiram R$ 2 milhões em tecnologia e para esse ano pretendem aplicar mais R$ 1,5 milhão. Para o ciclo 2019/2020, está previsto investir mais R$ 5 milhões em novos projetos. A velocidade da aplicação desses recursos vai depender da dinâmica de como acontecerá a transição nas regras do setor elétrico.
Liderado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), o Governo Federal pretende modernizar as regras comerciais e operacionais do setor elétrico brasileiro, colocando o mercado livre como protagonista dessa transição. Alguns movimentos já foram realizados pelo governo e a grande expectativa envolve a tramitação de um Projeto de Lei específico para tratar do tema.
“Estamos muito alinhados com o trabalho da Abraceel [representante das comercializadoras de energia elétrica] e outras entidades que são pró-mercado livre. Passaremos a ser a Bolsa que o setor precisa. A BBCE tem em seu plano estratégico se tornar a bolsa de tudo que envolva energia”, afirma Kodja.
A BBCE iniciou suas operações em março de 2012, fruto da união de 12 comercializadoras de energia. Entrou no mercado para concorrer com a pioneira Brix – que havia surgido quase um ano antes, em julho de 2011 e que tinha entre os sócios a ICE Intercontinental Exchange e o empresário Eike Batista. Como já se sabe, alguns dos negócios de Eike sofreram quando o megaempresário brasileiro começou a perder bilhões com os negócios de petróleo. Eike começou a vender sua participação em diversos negócios, entre elas na Brix.
Tomando conhecimento da crise que se passava com a sua concorrente, a BBCE tratou de fortalecer sua posição no mercado e já em 2013 assumiu a liderança em negociação eletrônica de energia elétrica. Até o dezembro de 2017, a BBCE acumulava mais 33.000 MW negociados através de 17.500 contratos e volume financeiro acima de R$ 6,6 bilhões.
Hoje a empresa conta com 32 sócios. O capital social evoluiu de R$ 7 milhões para R$ 15,6 milhões. Nos últimos cinco anos, foram investidos um total de R$ 5,6 milhões no negócio.
EM ÓTIMA FASE
Os números alcançados pela BBCE em 2017 indicam que o negócio engrenou e tem um futuro promissor no setor elétrico. Com um volume transacionado oito vezes superior ao verificado em 2016, foram negociados na plataforma 24.300 MW no ano passado, por meio de quase 12 mil contratos, representando um movimento financeiro de R$ 5 bilhões.
Isso permitiu que, pela primeira vez, a BBCE encerrasse um exercício com um lucro operacional líquido de R$ 1,9 milhão. A projeção é que esse lucro líquido alcance entre R$ 8 milhões e 10 milhões em 2018. “As perspectivas para 2018 são boas. Estamos recebendo dois novos participantes por semana. Vemos que a BBCE cada vez mais se consolida como uma plataforma importante para a realização de negócios, informações e formação de preço no mercado de energia”, diz Kodja.
No último mês de dezembro, também em uma entrevista à Agência CanalEnergia, Kodja havia informado que a previsão inicial era atingir 30.000 MW em 2018. Entre janeiro e 12 de março deste ano, porém, foram negociados 14.000 MW na plataforma, em um total de 2 mil contratos, superando as expectativas da administração.
A nova projeção da BBCE é alcançar 50.000 MW neste ano, apenas na plataforma de balcão, o que representará mais que dobrar o volume de negociações recorde de 2017.
Em janeiro, a BBCE lançou o serviço de “boleta eletrônica”. Trata-se de um serviço onde os agentes podem registrar uma negociação feita fora do ambiente da plataforma. Os contratos padronizados facilitam a viabilização dos negócios, promovendo segurança, agilidade e redução de custos, garante Kodja. Já foram registrados mais de 11.500 MW em contratos por meio do serviço de boleta. “Isso facilitou muito a participação de novos players e é mais barato do que mandar um moto boy registrar a operação em um cartório”, diz o executivo, acrescentando que tudo é devidamente assinado eletronicamente e criptografado.
No dia 15 de abril, será liberado para testes uma barra de serviços que funcionará como uma interface entre a plataforma e os departamentos de back office comercial dos traders. Com isso, as informações de transações realizadas na BBCE serão enviadas de forma automática e criptografada para os departamentos comerciais das empresas. O próximo passo é negociar com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para que esses dados também sejam compartilhados com a Câmara. O objetivo aqui é reduzir a burocracia contratual.
BOLSA DE ENERGIA
De acordo com Victor Kodja, a BBCE ainda precisa concluir algumas etapas antes de consolidar como a primeira clearing house de energia do país. Primeiro, conta ele, é preciso consolidar o mercado físico de contratos, aumentando os volumes negociados e a liquidez da plataforma.
O segundo passo é assinar um acordo com a BSM, empresa integrante da B3, responsável pela supervisão e fiscalização das operações administradas pela bolsa de valores de São Paulo. A ideia é que a BSM passe a supervisionar as operações da BBCE no padrão realizado no mercado financeiro, aprimorando o compliance e dando mais segurança, transparência e credibilidade às operações na plataforma.
“Isso avançou bastante, estamos com a minuta de contrato nas mãos e imaginamos que até o fim de abril esse acordo esteja assinado. A BBCE pretende ser a primeira plataforma não regulada com supervisão e padrões que a B3 tem. Buscamos credibilidade, aprimorar a governança operacional a um nível do que há de melhor no mercado. Esse acordo pode permitir que a BBCE eleve sua posição para balcão organizado”, informa o executivo.
O mercado de balcão organizado é um ambiente com sistemas informatizados e regras para a negociação de títulos e valores mobiliários. Este ambiente é administrado por instituições autorizadas a funcionar pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e por ela supervisionadas. São as chamadas instituições autorreguladas.
“A ideia é a BBCE seja a primeira bolsa de energia do Brasil. A estratégia é, dentro do ambiente digital, criar várias plataformas onde as empresas entram e escolhem a melhor opção para fazer negócio”, conclui.