O processo de venda de ativos das 70 SPEs da Eletrobras que ocorrerá em 7 de junho por meio de um leilão na B3 terá um passo decisivo em cerca de 15 dias. Essa é a estimativa para que o preço mínimo pelos parques eólicos e ativos de transmissão seja revelado. A venda será realizada em 17 lotes, sendo 8 de geração que englobarão os 967 MW e 9 lotes com 11 SPEs de transmissão que somam 1.004 quilômetros de extensão. De acordo com a empresa, o valor contábil desses ativos está em R$ 2,5 bilhões.
Esse, explicou o presidente da empresa, Wilson Ferreira Júnior, é mais uma medida no sentido de sanear as contas da companhia. Entre as medidas que a companhia vem apontando como a saída para resolver o problema do endividamento está a questão dos custos. Nesse sentido, estimou o executivo, a Eletrobras deverá ter em seis meses a implantação do sistema ERP em todas as 11 empresas do grupo o que vai levar à redução de custos operacionais. Nesse prazo é que iniciará a atividade de quatro centros de serviços compartilhados, que serão localizados em Brasília, Rio de Janeiro, Recife e Florianópolis.
“Quando eu cheguei na Eletrobras eram 22 mil empregados, vamos a 19 mil com o novo programa de demissão consensual divulgado ontem e reduziremos em mais 6,6 mil pessoas com a privatização das distribuidoras, ou seja, a Eletrobras encerrará 2018 com 12 mil pessoas ao final de 2018”, calculou ele.
Ferreira Júnior afirmou em entrevista coletiva realizada na sede da empresa em Brasília que havia mais gente trabalhando em escritórios da Eletrobras do que em campo, seja em subestações e usinas. Outra atividade que deverá ser padronizada é a modernização desses ativos, que levará a uma redução de quadros de pessoal.
A expectativa é de que a Eletrobras tenha em sua estrutura futura 49,9 GW em capacidade instalada, mantenha 48 SPEs estratégicas – sendo 30 de geração, 17 de transmissão e uma de serviços – que somem um valor contábil de cerca de R$ 18 bilhões. Atualmente a companhia possui um valor de mercado de R$ 24,3 bilhões com 175 SPEs. Além disso a CGTEE no sul deverá ser incorporada à Eletrosul e a Amazonas GT à Eletronorte para manter as principais subsidiárias.
Ele destacou entre as realizações, ter alcançado a redução na alavancagem da companhia de um ndice de 8,8 vezes a relação entre a dívida líquida sobre o ebitda para 3,7 vezes ao final de 2017. Ferreira Junior atribuiu esse marco graças a ações como a venda da Celg-D, de ações de participações na Energisa, CPFL, entre outras, no Brasil e no exterior. “Gerenciamos custos e melhoramos os resultados, mas ainda precisamos fazer mais”, resumiu ele.
No campo de obras que a Eletrobras possui atualmente ele apontou que há apenas duas em atraso. A primeira é Angra 3 e a outra é a linha de transmissão que ligaria Manaus e Boa Vista, a última capital ainda fora do SIN. Em sua avaliação a única que pode ficar de fora é justamente esta última, já que as obras da central termonuclear dependem de uma decisão do CNPE e, isto, é mais viável do que as discussões acerca da linha na região Norte.
Para ele, as obras de Angra 3 deveriam ser retomadas sim, pois já há um investimento reconhecido contabilmente de mais de R$ 11 bilhões na central. Além disso, “a usina está com nivel de conclusão da obra de 63% e não pode ser abandonada”, destacou ele. Contudo, lembrou que a tarifa hoje está defasada ante a época que se contratou essa energia.
“A tarifa atual é insustentável. As usinas nucleares no mundo estão em cerca de R$ 240/MWh em média, conseguimos ficar abaixo disso por conta das condições de financiamento. Do total do investimento foram 92% de dívida com o BNDES a TJLP ‘careca’, como costumamos chamar, e a Caixa a uma taxa nominal de 6,5% ao ano nominal, isso não existe no mundo, apenas 8% de capital próprio”, apontou ele. “As condições não são mais essas. Hoje a tarifa mais viável está na casa de R$ 300/MWh”, afirmou ele.
Privatização
Mais cedo, Ferreira Júnior esteve no TCU para um seminário que discutia a privatização da companhia. Segundo ele, é possível encaminhar o processo de venda do controle da estatal até o final de 2018, conforme acredita também o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho. Nesse caso, a empresa teria entre 15 de novembro e o início de janeiro para fazer a emissão de ações que levaria à redução da participação do governo no capital social da empresa.
Mas para isso, é preciso que o Congresso Nacional aprove o projeto de lei que está em tramitação. Em paralelo a essas discussões, a companhia tem que elaborar todos os trâmites legais para que consiga nessa janela a partir de novembro, capitalizar-se antes da divulgação dos resultados anuais de 2018 que acontece no início de 2019. Se há uma demora para a aprovação, os valores dessa capitalização devem ser atualizados porque é necessário que seja considerado o balanço de resultados mais atual da empresa o que levaria a privatização mais à frente do ano que vem.