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A forte disputa pela compra pelo controle da Eletropaulo (SP) a cada dia ganha mais um capítulo. O último episódio é o pedido de arbitragem feito pela Neoenergia na Câmara de Arbitragem do Mercado nesta terça-feira, 8 de maio. A italiana Enel permanece na disputa, tendo a companhia da Neoenergia, controlada pelo grupo espanhol Iberdrola. Embora esteja à venda, a cobiça pelo controle da distribuidora paulista vem de uma série de atrativos que ela possui. Na última sexta-feira, 4 de maio, o grupo Energisa desistiu da oferta pública de ações, saindo do leilão que será realizado no próximo dia 4 de junho.

Um desses principais atributos é a sua área de concessão, que abrange a região metropolitana da capital São Paulo. Com o mesmo nível de consumo permeando a região, seus consumidores tem um poder aquisitivo mais alto e estariam dispostos a pagar mais por serviços melhores. De acordo com Fernando Camargo, diretor da LCA Consultores, talvez não haja na América Latina uma área de concessão com a densidade da Eletropaulo, o que explica a briga por ela. “Isso permite ganhos de verticalização crescentes, com concentração, a eficiência de operar uma área com essa concentração é muito grande”, afirma. A agressividade dos players surpreendeu ele, que não esperava os valores que a disputa vem tomando.

Outro aspecto que pesa a favor da concessionária sob disputa é o que ela não enfrenta grandes desafios a sua gestão, como a Light (RJ) ou as distribuidoras da Eletrobras. “A Eletropaulo é uma empresa interessante, tem coisas boas que funcionam nela e ainda outras que um novo dono pode trazer”, conta Thais Prandini, diretora da Thymos Energia. Ainda segundo ela, houve um viés mais financeiro que técnico nas últimas gestões da Eletropaulo, o que será resgatado pelo novo dono.

Mas se aos olhos das concorrentes o ativo possui uma série de predicados, já para o atual, o grupo AES, a opção pela área de geração é mais forte. Com forte atuação nessa área em vários países, os atuais donos da distribuidora já vinham sinalizando esse direcionamento no Brasil, quando em 2016 vendeu a AES Sul (RS) para a CPFL. “Talvez ela tenha chegado a conclusão que não era o business dela, talvez seja melhor deixar para alguém que tenha esse business”, reforça a diretora da Thymos. Os valores que estão se revelando com a disputa também acabam por tornar a venda irrecusável, segundo Camargo, da LCA. “Com os preços que estão se desenhando, qualquer um sairia.  Qualquer vendedor na hora pensa pouco para entender que é hora de sair”, observa. A AES atua no Brasil na geração por meio da AES Tietê, que é uma das maiores geradoras hidrelétricas do país e recentemente tem apostado em projetos eólicos, com a compra de ativos da Renova, e de usinas solares, ainda em construção.

Quem levar a Eletropaulo vai ganhar a liderança no mercado de distribuição. No caso da Neoenergia, reforça a atuação em São Paulo, onde já tem a Elektro. Já com a Enel, entra em mais um estado do Sudeste. Ela já tem a Enel Distribuição Rio, que atende o interior do estado. A disputa entre as duas, que já levou a queixas da Iberdrola na Comunidade Europeia. Para Fernando Camargo, da LCA, o a custo de capital vai fazer a diferença no processo entre as empresas. “Isso evidencia que são dois europeus disputando mercados. Os mercados originais deles não dão nem um pouco do dinamismo que o nosso proporciona em termos de capital”, avisa.

O futuro da Eletropaulo pode acabar resvalando no destino das distribuidoras da Eletrobras e em outras que estão à venda, como a Light (RJ). O novo dono da concessionária paulista pode perder o apetite para mais compras e o leilão das distribuidoras deve acontecer em meados de junho. Com realidades completamente diferentes, a difícil situação das concessionárias da Eletrobras traz um desafio operacional forte, ao contrário da Eletropaulo, por exemplo. O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, não acredita que a disputa pela Eletropaulo possa esvaziar o leilão das distribuidoras sob o seu controle. Ele considera os ativos da estatal mais interessantes, porque será necessário menos dinheiro na compra e a perspectiva de criação de valor estratégico é maior. “Nos nossos ativos tem possibilidade de reduzir custos, de investir mais porque o crescimento maior e de criar valor pela redução das nossas ineficiências, em que a principal é a perda”, aponta o presidente da Eletrobras.